CapÍtulo iv

CAPÍTULO IV
INFECÇÕES CIRÚRGICAS
As infecções que ocorrem na prática cirúrgica ainda apresentam grande desafio na prevenção, diagnóstico e tratamento. A despeito do progresso na cirurgia e microbiologia, um
grande percentual de pacientes cirúrgicos é afetados por infecções de tipo e severidade
variável. Mesmo com o advento dos antibióticos não só continuou o problema das infecções
adquiridas, em feridas cirúrgicas e nos hospitais, como aumentaram as dificuldades
relacionadas à prevenção e controle das infecções cirúrgicas conseqüentes ao uso desordenado
destes fármacos.
4.1 - BIOLOGIA DAS INFECÇÕES CIRÚRGICAS

O processo da infecção envolve uma alteração nos mecanismos homeostáticos que tendem a eliminar o agente infeccioso. Os mecanismos naturais de defesa do organismo são os fatores locais e sistêmicos envolvidos na contensão e resolução da infecção. São eles: b) os componentes humorais (imunoglobulinas); c) o sistema fagocítico (neutrófilos e macrófagos); d) imunidade celular mediada (linfócitos); O conhecimento desses mecanismos de defesa é necessário para saber os possíveis defeitos que podem derrubar o equilíbrio entre bactéria e hospedeiro. A resposta do hospedeiro ao agente invasor é governada pelas condições ativas das portas de entrada (pele e mucosas) que proporcionam a primeira linha de defesa do organismo: - a pele oferece uma cobertura flexível para a superfície corporal. O ressecamento oferecido pela camada de queratina e as secreções cutâneas que são bactericidas ou
bacteriostáticas protegem contra o Staphylococcus aureus que aí coexiste;
- o trato respiratório é protegido por secreções bronquiais que contêm IgA e cílios os quais removem partículas estranhas da área brônquica; - no trato digestivo o pH estomacal reduz o nível bacteriano e no intestino o peristaltismo elimina os subprodutos não aproveitáveis e cuja permanência favoreceria a proliferação bacteriana; - a saliva e a lágrima possuem imunoglobulina A (IgA) com poder bactericida; - a vagina da cadela apresenta intensa leucocitose, durante o estro, que protege contra o pênis contaminado do macho por ocasião da cópula; - a flora bacteriana normal de determinado tecido previne o estabelecimento de Passando a primeira linha de defesa, ou seja, após ultrapassar o epitélio cutâneo ou mucoso, as bactérias localizam-se no meio extracelular onde estimulam o processo inflamatório. Esta resposta inicia por ação de aminas vasoativas como a serotonina e histamina, as quais potencializadas pelo sistema calicren-cininas induzem aumento na permeabilidade vascular e na capacidade aderente das superfícies endoteliais venulares. Assim os leucócitos, hemácias e plaquetas tendem a marginação vascular. Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. A vasodilatação, particularmente venular, permite transudação de plasma, proteínas, anticorpos, complemento, água, eletrólitos e demais substâncias humorais circulantes no local. O processo inflamatório fica localizado devido aos coágulos de fibrina e edema que previnem a disseminação das bactérias através dos capilares que drenam a região. Para que ocorra a fagocitose, mecanismo de defesa celular, a bactéria deve ser reconhecida como elemento estranho ao hospedeiro, por meio do sistema imune do animal, particularmente o sistema humoral. As imunoglobulinas (anticorpos) são sintetizadas pelo sistema linfóide em resposta a um estímulo antigênico específico. Na presença de bactéria as imunoglobulinas, principalmente IgA e IgM, reagem com a área antigênica específica da parede celular bacteriana. Esta união gera alteração no anticorpo desencadeando o sistema do complemento que intensifica a interação entre um antígeno específico e seu complemento. Um dos efeitos mais importantes, quando da ativação do complemento, é o processo de opsonização do anticorpo (IgG e o produto da cascata do complemento (C3) na superfície bacteriana, sensibilizando-a à fagocitose pelos neutrófilos e macrófagos. A interação antígeno/anticorpo/ complemento libera substâncias quimiotáxicas que atraem os leucócitos. Estes, entrando em contato com a bactéria opsonizada fagocitam-na. Uma vez formado o fagossoma (com a bactéria) os grânulos lisosomais convergem para a membrana do vacúolo, fundem-se a ele e liberam suas enzimas as quais causam morte e digestão bacteriana. Os polimorfonucleares predominam na fase inicial do processo inflamatório e, por terem vida relativamente curta, devem ser repostos constantemente na área inflamatória e na circulação. Quando morrem são fagocitados pelos macrófagos. Os monócitos que chegam ao processo inflamatório tornam-se macrófagos com propriedades fagocítica e bactericida e de vida longa. O monócito também requer anticorpo e complemento para exercer a fagocitose. Os macrófagos contêm estruturas lisosomais diferentes dos neutrófilos, com quantidades relativamente pequenas de lisosima e fagocitina e um grupo de proteínas com
propriedade bactericida. Após fagocitose e digestão pelos macrófagos os antígenos
bacterianos sensibilizam os linfócitos regionais ou locais para produção específica de
anticorpos.
4.1.1 - Fatores sistêmicos que interferem com a resistência orgânica
A homeostase consiste nas respostas fisiológicas que fazem o meio interno retornar ao estado normal após uma alteração como a infecção. A homeostase constitui-se do equilíbrio entre: microorganismo infectante, meio em que a infecção se estabelece e os mecanismos de defesa do hospedeiro, que controlam a invasão das bactérias. Os fatores sistêmicos que interferem com a resistência orgânica (Quadro 4.1) são os seguintes: Idade: animais jovens e velhos apresentam maior incidência de infecção. Nos velhos deve-se à diminuição na produção de anticorpos. Nos jovens Quadro 4.1 Fatores sistêmicos que afetam a
a capacidade fagocítica, de destruição bacteriana e resistência orgânica.
movimento amebóide dos neutrófilos é inferior ao Estado de nutrição: apenas os extremos de obesidade e desnutrição interferem com a resistência orgânica. Nos obesos o volume e fluxo sangüíneo por unidade de peso estão diminuídos no Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. tecido adiposo, que fica relativamente avascular. Animais desnutridos e hipoprotêicos têm deficiência na síntese de anticorpos. Na inanição a atividade fagocítica está diminuída. A simples privação energética por alguns dias não interfere. Diabetes melito: o favorecimento à infecção ainda é controvertido. Parece ser decorrência das complicações apresentadas pelo diabético. Testes in vitro demonstram que há
inibição de bactérias Gran negativas no plasma suplementado com altos níveis de glicose. Por
outro lado, o Diabetes está associado a um defeito na mobilização dos leucócitos que pode ser
corrigido controlando-se os níveis de glicose. Os níveis elevados de glicose predispõem à
hiperosmolaridade e supercrescimento micótico, além de inibir a fagocitose.

Adrenocorticosteróides: em níveis fisiológicos são benéficos à resposta inflamatória. Níveis baixos de esteróides diminuem a síntese de enzimas lisosomais nos neutrófilos. Quando elevados inibem os mediadores que causam permeabilidade capilar e, portanto, decrescem a liberação de células fagocíticas no processo inflamatório. Choque: lesões localizadas com infecção têm potencializado o risco de infecção pelo choque hipovolêmico devido à redução na perfusão tecidual. Irradiação: a contagem de leucócitos cai rapidamente após irradiação em todo o corpo, mas retorna ao normal em semanas. Quando a irradiação for localizada pode causar fibrose com diminuição na perfusão local. A irradiação sistêmica crônica pode interferir com o metabolismo celular. Usada clinicamente, os problemas são raros. Malignidade: o câncer está associado com alterações na imunidade celular mediada, imunidade humoral, função fagocitária, resposta inflamatória e barreiras anatômicas. O hospedeiro pode ser afetado quando forem utilizados agentes quimioterápicos e antimetabólicos como terapia antineoplásica. Esplenectomia: é discutível. Parece mais importante em jovens onde o baço é um componente de maior importância do sistema histiolinfoplasmocitário que no adulto. Sua manutenção é importante para regulação da volemia nos casos de hipotensão. Queimaduras: afetam a maioria dos sistemas de defesa. Na porta de entrada (pele) ocorre lesão mecânica com destruição do epitélio, expondo os tecidos sub-epidermais. Nas barreiras das mucosas há decréscimo na IgA (saliva e lágrima) que podem resultar em estomatite e conjuntivite. A queimadura provoca estase venular, microtrombose e retarda a marginação leucocitária a nível vascular. Anestesia geral: inibe a mobilidade dos leucócitos e a replicação celular. O mecanismo quiomiotáxico é afetado por narcóticos, agentes voláteis de indução anestésica e
relaxantes musculares. Antibióticos como a ampicilina, cefazolina e cefoxitina não têm
causado interferência com a pressão sangüínea ou freqüência cardíaca quando utilizados
durante anestesia geral com halotano. Por outro lado, o propofol, por ser uma emulsão
lipídica, pode permitir crescimento bacteriano. Soluções contaminadas podem favorecer a
ocorrência de infecção cirúrgica.

4.1.2 - Fatores locais que interferem com a resistência orgânica

Os efeitos da interação entre a bactéria e o hospedeiro, embora sob influência sistêmica, são determinados por fatores locais. Durante a cirurgia, ou após trauma, as bactérias têm acesso aos tecidos normalmente assépticos do hospedeiro devido à quebra nas barreiras naturais da pele e mucosas. Entre os fatores locais que facilitam a infecção estão incluídos o estado anatômico e fisiológico dos tecidos onde as bactérias penetram. A técnica e dedicação de cada cirurgião são os fatores mais importantes na criação de uma ferida que seja inadequada à proliferação bacteriana e na qual as defesas fisiológicas e os mecanismos reparadores sejam preservados. Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. principais fatores locais que favorecem a Quadro 4.2 Fatores locais que favorecem a infecção.
Relação bactéria resistência orgânica: a simples presença de bactéria RELAÇÃO BACTÉRIA/RESISTÊNCIA ORGÂNICA delas é importante. O nível crítico de mililitro de líquido biológico. Somente o
Streptococcus beta-hemolíticus parece
capaz de causar infecção em níveis inferiores. Existe um período crítico de aproximadamente
5 horas desde a penetração do inóculo bacteriano para que o número de bactérias alcance o
parâmetro 105/g de tecido ou ml de líquido biológico.

Diminuição na perfusão da ferida: é imprescindível a preservação da vascularização local para que haja oferta de oxigênio necessário aos processos metabólicos. A presença de tecido desvitalizado, fio inadequado (tipo e diâmetro), suturas sob tensão ou muito apertadas, corpos estranhos, esmagamento tecidual pelo uso inadequado de pinças hemostáticas são fatores que prejudicam a vascularização local. Os hematomas e coágulos além de serem ótimo meio de cultura previnem, por ação mecânica, a atuação dos mecanismos naturais de defesa no local da infecção. A hemorragia e o hematoma aumentam significativamente a possibilidade de um inóculo bacteriano causar infecção. A presença de espaço morto anatômico propicia a formação de seroma o qual O ferimento causado por força compressiva (impacto) é 100 vezes mais sensível à infecção que aquele por avulsão (arrancamento), pois ocorre ruptura de vasos na pele e tecidos subjacentes. Tecidos desvascularizados por esmagamento têm diminuição na liberação de imunoglobulinas e células leucocitárias, na área, aumentando a chance de infecção. Fontes bacterianas: o grau de contaminação bacteriana da área operatória, durante uma intervenção, tem um efeito significativo sobre a infecção da ferida cirúrgica. Os microorganismos que infectam as feridas cirúrgicas podem ser adquiridos de fontes exógenas como ar, pessoal, instrumental, superfície externa do paciente, ou endógenas, quando as bactérias estão no paciente e penetram ativamente através das bordas da ferida ou chegam de focos a distância, via sangüínea ou linfática, devido a queda na resistência orgânica. A resposta vascular e linfática à inflamação pode promover a transferência de bactérias para a ferida cirúrgica. Em humanos a presença de infecção em áreas distantes do local de intervenção tem sido associada com uma elevação de 300% na taxa de infecção da ferida cirúrgica e tem sido a causa de infecção retardada em implantes prostéticos. Bactérias endógenas e exógenas da flora cutânea são responsáveis pela maioria das infecções nas cirurgias limpas. Estima-se que a cada hora 35.000 a 60.000 bactérias caem sobre o campo operatório. Um indivíduo na sala cirúrgica emite 5.000 a 55.000 partículas/minuto, dependendo de sua vestimenta e tempo transcorrido desde o último banho. O risco de infecção dobra a cada hora de tempo operatório. Isto parece estar associado ao elevado número de bactérias endógenas e exógenas da flora cutânea que contaminam a ferida Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. cirúrgica e à diminuição na defesa tecidual local por isquemia e ressecamento dos tecidos expostos. A contaminação exógena é muito baixa quando for usada técnica asséptica e empregada disciplina rigorosa na sala operatória.

4.2 - INFECÇÃO NOSOCOMIAL

As infecções adquiridas durante a internação hospitalar são denominadas nosocomiais. Os microorganismos mais freqüentemente encontrados são: Staphylococcus
aureus
, Streptococcus beta-hemoliticus, klebsiella, Escherichia coli, Pseudomonas e
Proteus
que apresentam índices variáveis de resistência aos antibióticos. Mais de 60% das
infecções diagnosticadas por cirurgiões veterinários têm significativa população de bactérias
anaeróbicas.
Na rotina hospitalar deve-se estar atento à transmissão de infecção de um animal para outro (infecção cruzada) ou de um tecido para outro (auto-infecção) no mesmo indivíduo. As
vias aéreas superiores de pacientes hospitalizados podem ter grande número de Streptococcus
e Staphylococcus. O pessoal técnico do hospital pode transmitir a infecção de um paciente
para outro se não adotar cuidados de assepsia no manejo dos animais e uso de instrumental
(pinça, termômetro) ou utensílios de limpeza. O contato direto com o paciente ou fômites
favorece a disseminação da infecção. Deve-se levar em consideração, ainda, que o ar
ambiental dos hospitais ou clínicas contém número significativo de partículas potencialmente
infectantes.
proporcionalmente o risco de infecção pós-cirúrgica devido à contínua aquisição, pelo
paciente, de bactérias nosocomiais patogênicas.

4.3 - DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO CIRÚRGICA

A infecção cirúrgica pode ser definida como um processo patológico causado pelo crescimento de microorganismos nos tecidos. O primeiro sinal de infecção cirúrgica é a hipertermia. Essa elevação na temperatura deve ser relacionada à intensidade do trauma e o tempo transcorrido desde a cirurgia. É fisiológica uma hipertermia moderada (elevação de 1 a 2oC) em cirurgias traumáticas, no primeiro e segundo dias de pós-operatório. Quando persistir por mais de três dias é necessário averiguar possíveis complicações. O paciente pode apresentar sinais sistêmicos como prostração, anorexia e polidipsia. Nos casos de toxemia podem aparecer sinais de icterícia, uremia, disfunção cardiocirculatória, na dependência dos órgãos ou sistemas comprometidos. A leucometria seriada permite identificar a presença e eventual progressão da infecção. Como sinais locais de infecção cirúrgica podem ser encontrados edema de bordas, pontos apertados, eritema, sensibilidade exagerada, drenagem de secreção serosa ou serossangüínea pela linha de sutura, presença de seroma, endurecimento de massas musculares na região e até supuração. As secreções devem ser colhidas e encaminhadas para exames microbiológico e de sensibilidade microbiana. As feridas cirúrgicas podem ser classificadas de diferentes maneiras, no entanto, quando classificadas conforme o grau de contaminação bacteriana, permitem a escolha de diferentes protocolos de controle ou prevenção da infecção. O Quadro 4.3 apresenta o esquema elaborado em 1964 pelo “Comitte on trauma of the National Academy of Sciences - National Research Council, USA”. Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. Quadro 4.3. Classificação das intervenções cirúrgicas conforme o grau de
contaminação bacteriana.

Tipo de ferida cirúrgica
Características
Procedimentos eletivos onde a cicatrização ocorre por 1ª intenção; ausência de dreno, trauma, infecção ou quebra de assepsia; não há invasão dos tratos respiratório, gastrintestinal, genito-urinário e orofaringe. Exemplos: cirurgia estética de orelhas, ooforectomia e orquiectomia eletiva em animal sadio. baixa Há invasão dos tratos respiratório, gênito-urinário, contaminação incomum como extravasamento de conteúdo nos tecidos adjacentes. Exemplos: ovario-histerectomia, lobectomia pulmonar, gastrostomia, cirurgias nos tratos biliar ou urinário, na presença de bile ou urina não infectadas. Intervenção em ferida aberta, recente (menos de 4h) ou incisão em tecido com inflamação não purulenta. Operações com extravasamento de conteúdo digestivo; maior quebra na assepsia (massagem cardíaca externa) ou penetração do trato biliar ou urinário em presença de bile ou urina infectadas. Envolve feridas traumáticas, com tecidos desvitalizados, corpos estranhos, contaminação fecal; feridas com mais de 5h de evolução e cirurgia onde são encontradas vísceras perfuradas ou inflamação bacteriana aguda; presença
4.4 - PRINCÍPIOS DA TERAPIA ANTIMICROBIANA EM CIRURGIA

Os antibióticos podem ser prescindidos, utilizados de forma profilática ou terapêutica Atualmente tem-se abusado do uso de antibióticos peri-operatórios com a finalidade de prevenir ou combater a infecção cirúrgica. Não raro, são utilizados de forma errônea, sem considerar a indicação, dose e freqüência podendo causar toxicidade ou resistência bacteriana. A administração de fármacos a um paciente para prevenir a aquisição e estabelecimento de microorganismos patogênicos é definida como quimioprofilaxia antimicrobiana. Nessa situação a infecção ainda não está estabelecida. Esse procedimento é, também, denominado terapia de antecipação. Tem como vantagens o decréscimo na morbidade e mortalidade dos pacientes, reduz o tempo de hospitalização e reduz o custo de internação. Além disso, diminui a quantidade de antibiótico utilizado minimizando a resistência bacteriana e o risco de superinfecção. Nos princípios para utilização da profilaxia antimicrobiana em cirurgia, salienta-se a importância de que o nível de antibiótico, nos tecidos, seja mantido durante o período trans-operatório não se prolongando por mais que 3 a 6 horas no pós-operatório, sendo tolerado um prolongamento de até 24h. Para o esquema profilático, portanto, o antibacteriano deve ser administrado, por via venosa, imediatamente antes da cirurgia (30 minutos) para alcançar nível tecidual adequado no momento da intervenção. Durante o ato operatório deve ser Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. mantida a concentração inibitória mínima do fármaco, para controlar as bactérias patogênicas sensíveis. O antibiótico indicado para profilaxia efetiva deve ser: bactericida, ativo contra as bactérias patogênicas mais prováveis de ocorrerem em determinada situação, alcançar rapidamente alto nível tecidual, manter altas concentrações teciduais por várias horas, não ser tóxico em doses terapêuticas, e ter espectro relativamente amplo. As cefalosporinas de primeira geração (cefazolina), algumas de segunda geração (cefoxitina, cefotetan), penicilinas penicilinase-resistentes (oxacilina), além da ampicilina e metronidazole são exemplos que preenchem os critérios citados. Experimentalmente, tem-se constatado que a gentamicina (2mg/kg) não alcança concentrações adequadas na ferida operatória e a cefazolina (20mg/kg) e ampicilina (10mg/kg) não mantêm as concentrações necessárias por mais que 2h30min e 2h respectivamente. Naquelas cirurgias mais prolongadas, portanto, há necessidade de repetir a dose ao final do período efetivo de cada uma delas, ou seja, para a cefazolina, por exemplo, deve ser administrada nova dose 2h30min após a primeira, se o paciente ainda estiver sob intervenção cirúrgica. O cirurgião pode prever ao tipo de bactéria contaminante mais provável, baseado na localização da cirurgia ou ferida e selecionar o antibiótico mais apropriado (Quadro 4.4). Por
exemplo: cirurgias que não envolvam o trato gastrintestinal, urogenital ou respiratório, têm
risco de contaminação por Staphylococcus; naquelas que invadam esses sistemas, a
contaminação pode ocorrer por múltiplas espécies de bactérias que são nativas nesses órgãos.
Quadro 4.4. Seleção de antibiótico para profilaxia em diferentes regiões.

Procedimento específico e
Bactéria Provável
Antibiótico(s) Recomendado(s)
fator de risco
Staphylococcus
Staphylococcus
(Principalmente Streptococcus,
Clostridium)
(Principalmente Bacteroides,
Streptoccocus
E. coli, Streptococcus, anaeróbios
Staphylococcus, Streptococcus,
Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. No Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tem sido utilizada a ampicilina sódica na dose de 20mg/kg, administrada por via venosa, 30 minutos antes da cirurgia, nos casos em que se indica a profilaxia antibiótica. Quando a cirurgia prolongar-se além do período efetivo do fármaco (2h) a dose será repetida. Nas cirurgias envolvendo o trato gastrintestinal, o esquema profilático sugere o - cirugias de esôfago, estômago e intestino delgado 30mg/kg, subcutânea, de trimetoprim-sulfatiazol, 2h antes da cirurgia; 20mg/kg de cefazolina, intravenosa, imediatamente após a indução da anestesia; - cirurgias do intestino delgado baixo, ceco e colo além do esquema anterior, suspender a alimentação por 24 a 48 horas e fazer enema 24 e 12h antes da cirurgia. Os erros mais comuns na profilaxia antimicrobiana incluem o uso de antibióticos em cirurgias limpas, falha na escolha da via de administração apropriada, seleção de antibióticos que são ineficientes contra a maioria das possíveis bactérias contaminantes e administração por período prolongado além do necessário (>24h). O uso profilático de antibióticos deve ser evitado nas seguintes situações: - infecções víricas; - em pacientes com Diabetes melito, enfermidade de Cushing, cardiopatia congestiva com resistência bacteriana diminuída; - pacientes com dispositivo intravenososo (cateter), urinário (sonda vesical), tubo de drenagem torácica ou drenos cirúrgicos; - cirurgias limpas; - cirurgias limpa-contaminadas em pacientes de baixo risco; - lacerações simples com menos de 6h de evolução. A terapia antimicrobiana consiste no uso de antibióticos para combater a infecção já presente. Sempre que o antibiótico for indicado como medida terapêutica, o nível adequado deve ser mantido por 3 a 5 dias ou até que os sinais de infecção desapareçam. Nestes casos deve ser dada prioridade ao antibiograma na escolha do fármaco mais adequado o qual deve ser administrado conforme a freqüência de cada um (a cada 6, 8 12 ou 24 horas). Quando houver presença de septicemia ou choque séptico, a terapia antimicrobiana recomenda uma dose inicial do antibiótico, para alcançar os níveis necessários e após fazer manutenção conforme a constante de eliminação do fármaco utilizado (Quadro 4.5). peso x mg/kg do antibiótico x constante de eliminação x 24h = mg/dia
Considerando como exemplo, um cão de 10kg que precisasse receber ampicilina como terapia antimicrobiana em caso de septicemia: - a dose inicial seria 200mg (20mg/kg) aplicada intravenosa; - a dose de manutenção seria determinada pela seguinte fórmula: Assim, no caso: 10 x 20 x 0,462 x 24 = 2217,6mg/dia; - esta concentração calculada deve ser diluída no seu requerimento hídrico basal (50ml/kg/dia). Para este cão, 500ml/dia; - a concentração de antibiótico obtida (2217,6mg) será diluída nesta solução (500ml) e dada por gotejamento venoso em 24h. (500ml ÷ 24h = 20,83ml/h ou 0,4ml/minuto). Considerando a classificação das feridas baseado na densidade microbiana, pode ser Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. Quadro 4.5. Dose e constante de eliminação de
alguns antibióticos.
Fármaco
Constante de
eliminação
Bloco Cirúrgico de Pequenos Animais, no Hospital de Clínicas Veterinárias da UFSM. Em uma avaliação de 1923 intervenções cirúrgicas, o índice de infecção hospitalar foi de 0,72% (14 casos). Este resultado mostra a eficiência do protocolo, comparado com hospitais de Escolas Norte-americanas de Medicina Veterinária onde o índice de infecção varia de 0,9 a 5,1%. Como norma geral, antes de ser submetido à cirurgia, cada animal deve ser avaliado clinicamente quanto às condições de volemia e hidratação. Nas cirurgias eletivas as alterações devem ser compensadas no pré-operatório e nas emergenciais durante o ato operatório e/ou pós-operatório imediato. Animais encaminhados à cirurgia por apresentarem patologias consideradas infectadas devem primeiro receber tratamento apropriado da infecção localizada (por exemplo: limpeza e combate à infecção do ferimento) antes de serem submetidos ao ato operatório. Nestes casos recomenda-se a colheita de material para avaliação microbiológica e de sensibilidade antimicrobiana. Os cuidados indicados nas infecções cirúrgicas locais consistem em ampla tricotomia, na região, limpeza mecânica com gaze embebida em solução salina adicionada de iodo povidine em concentração de 1:1000. Deve ser utilizado um anti-séptico forte 3 a 4 vezes ao dia para controlar a infecção. A utilização de açúcar granulado 4 a 6 vezes ao dia, nos primeiros dois a três dias, diminuindo depois para 3 vezes ao dia, tem mostrado 100% de eficiência no controle da infecção de feridas cirúrgicas e estimula a formação de tecido de granulação. Com este procedimento, a maioria das infecções são controladas em 4 a 5 dias, sendo indicada, então, a cirurgia corretiva ou pode ser estimulada a regeneração por granulação. Nas patologias de caráter emergencial, cuja intervenção seja caracterizada como suja ou infectada (parto distócico enfisematoso), a antibioticoterapia deverá ser iniciada já no trans-operatório. Nestes casos o antibiótico deve ser de amplo espectro de ação atuando também em anaeróbicos. Patologia Cirúrgica Veterinária - UFSM, Santa Maria. O campo operatório deve sofrer ampla tricotomia e apropriada anti-sepsia com degermantes adequados. O gluconato de clorexidina e o iodo polividona, associado com lauril-éter sulfonato de sódio, possuem alta confiabilidade na degermação da superfície de mucosas e da pele, na preparação pré-operatória. Em todo ato operatório deve-se procurar seguir os princípios da cirurgia atraumática preconizados por Halsted que consistem de: a) manuseio atraumático dos tecidos; b) hemostasia cuidadosa; c) preservação da vascularização; d) assepsia rigorosa; d) ausência de tensão nos tecidos; e) redução adequada dos planos teciduais durante a síntese e obliteração do espaço morto anatômico. Recomenda-se que o antibiótico não seja utilizado como substitutivo de medidas de assepsia. Desculpas como falta de luvas, de sala ou instrumental adequado para intervenções
cirúrgicas não justificam. Atualmente os diferentes meios de assepsia, a preparação de uma
sala adequada ao ato operatório não são fatores limitantes. O exercício da consciência
cirúrgica ainda é fundamental na prevenção da infecção.

4.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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