INTRODUÇÃO
Os anticoagulantes são medicamentos com ação no atraso da
coagulação sangüínea, sendo aplicados no tratamento das patologias do sistema
circulatórios e distúrbios da coagulação. Dentre os anticoagulantes de via oral
tem-se a varfarina, um clássico, por ser mais confiável e mais conhecido é o mais
prescrito, graças a sua excelente biodisponibilidade (REMIÃO, 2004).
Os anticoagulantes orais são eficazes na prevenção e tratamento de
tromboses venosas profundas, também na prevenção de situações de
em pacientes comatrial, válvulas cardíacas artificiais, e
situados em veias centrais, assim como em pacientes que sofreram
Apesar do seu excelente valor clínico, a varfarina é muitas vezes
preterida devido ao inconveniente da monitorização e às preocupações de
possíveis complicações, O risco de complicações aumenta
quando há uso de mais fármacos simultaneamente, onde podem ocorrer reações
indesejadas que variam de leves a graves (DHARMANANDA, 2004). Nesse
contesto surge a importância do farmacêutico clínico com seu conhecimento e
habilidade na monitorização eficaz e continua dessa terapia, com propósito de
prevenir esses problemas, direcionando o melhor caminho farmacoterapêutico,
garantido o bem estar e a qualidade de vida do paciente.
O objetivo geral dessa pesquisa é conhecer a importância da aplicação
farmacoterapêutica dos anticoagulantes de via oral, no tratamento das patologias
do sistema circulatório, bem como as atribuições e a importância do farmacêutico
clínico no acompanhamento farmacoterapêutico, na prevenção de reações
adversas e interações medicamentosas.
Entender os mecanismos da coagulação sanguínea, bem como as
Conhecer a importância dos anticoagulantes de via oral na aplicação
farmacoterapêutica, detendo-se a varfarina;
Apontar a eficácia terapêutica da varfarina, relacionando os possíveis
problemas ao seu uso, como: reações adversas, interações
medicamentosas e ainda identificar os cuidados necessários durante o
Mostrar a importância do farmacêutico clínico no acompanhamento
farmacoterapêutico, bem como, suas atribuições e seus benefícios para o
Os anticoagulantes de via oral são medicamentos comumente utilizados
na terapêutica de tromboses, embolias e infartos. Possui várias interações
medicamentosas e reações adversas que podem ser fatais, tornando-o um
medicamento de risco potencial. A falta do serviço de farmácia clínica no suporte
terapêutico agrava ainda mais os problemas relacionados ao seu uso, sendo
interessante conhecer as atribuições desse serviço, bem como, as ações e
benefícios do farmacêutico clínico. CAPÍTULO 01 HEMOSTASIA E A FISIOLOGIA DA COAGULAÇÃO FISIOLOGIA DA COAGULAÇÃO
O sangue é um tecido de vital importância para o organismo,
responsável pela circulação e transporte de nutrientes para todos os órgãos do
corpo, mantendo-os em seus funcionamentos normais. É composto por uma fase
sólida de elementos formados – células e partes de células – e por fase líquida – o
plasma. Na fase sólida encontram-se as células vermelhas e brancas – eritrócitos
e leucócitos, e fragmentos celulares – plaquetas, onde os eritrócitos são
responsáveis pelo transporte de oxigênio, os leucócitos atuantes na fagocitose e
imunidade e as plaquetas na coagulação sanguínea. Todos juntamente com o
plasma estão envolvidos na homeostasia, processo de equilíbrio dinâmico com
função de manter o organismo estável (DAVIES et al., 2003).
A capacidade específica do sangue de ser um tecido líquido traz com ela a desvantagem, também específica, de que ele pode vazar. Obviamente controles sofisticados estão presentes, voltados para o impedimento dessa ocorrência infeliz. A interrupção do vazamento do sangue é conhecida como hemostasia (DAVIES et al., 2003).
A hemostasia [haina, sangue + stasis, parada] refere-se ao fim do
sangramento espontâneo de um vaso lesionado. O oposto de hemostasia é
hemorragia [-rrhagia, fluxo anormal] (SILVERTHORN, et al., 2003).
A hemostasia ocorre em três grandes etapas: vasoconstrição, bloqueio
temporário através de uma plaqueta tampão e coagulação sanguínea que veda o
local lesionado até o reparo total do tecido (SILVERTHORN, et al., 2002).
A vasoconstrição ocorre imediatamente após o rompimento do vaso
sanguíneo, seguido do estimulo do trauma, causando a contração das paredes do
vaso, reduzindo a perda de sangue. Essa contração é resultante de reflexos
nervosos e fatores humorais locais provenientes do endotélio traumatizado e das
Ao se ligarem ao colágeno exposto pelo endotélio, as plaquetas sofrem
modificações morfológicas, adquirindo formas irregulares e maior volume,
expondo em suas superfícies proteínas contráteis e grânulos ativos que sintetizam
o tramboxano A2 (GUYTON et al., 2002), que junto com outros fatores estimulam a
ativação de outras plaquetas, ocorrendo à agregação plaquetária que formam um
tampão sobre a ruptura do vaso (SILVERTHORN et al., 2003).
Simultaneamente com todo esse processo inicia-se uma série de
reações conhecidas como cascata de coagulação que ocorre em duas vias:
intrínseca e extrínseca. Nesta cascata ocorre à conversão de proteínas inativas
em enzimas ativas, quando a protrombina é convertida em trombina que
transforma o fibrinogênio em fibrina reforçando o tampão plaquetário, formando o
VIA INTRÍNSECA E EXTRÍNSECA DA COAGULAÇÃO
A coagulação acontece por duas vias, sendo uma intrínseca e outra
extrínseca. A via intrínseca inicia com a exposição do colágeno e uso de proteínas
já presentes no plasma. A via extrínseca começa quando os tecidos lesionados
expõem um fator tecidual, que é uma mistura de proteínas e fosfolipídios,
juntamente com as proteínas do plasma. As duas vias unem-se em uma via
comum para criar a trombina, uma enzima que converte o fibrinogênio em fibras
insolúveis denominadas fibrinas que fazem parte da constituição do coágulo
Em cada etapa da cascata de coagulação, uma enzima converte um
precursor inativo e uma enzima ativa, através do auxílio de íons de cálcio,
fosfolipídios de membrana, ou fatores adicionais (SILVERTHORN et al., 2003). O
íon cálcio na quantidade suficiente promove a conversão da protrombina em
trombina. A trombina, por sua vez, causa polimerização das moléculas de
fibrinogênio em fibras de fibrina (GUYTON et al., 2002).
A protrombina é uma proteína plasmática, uma alfa2-globina, instável e
pode dividir-se em compostos menores, um dos quais a trombina. Sua síntese
acontece interruptamente no fígado com a participação da vitamina K, além da
presença de outros fatores. Dessa forma a falta da vitamina K, ou a instalação de
uma doença hepática pode vir a afetar a síntese da protrombina diminuindo sua
concentração sérica no organismo, resultando em hemorragias (GUYTON et al.,
Segundo Silverthorn et al. (2003), os fatores da via intrínseca e
extrínseca se interagem reciprocamente, fazendo a coagulação mais uma rede do
que uma simples cascata, que contam ainda com ciclos adicionais de
retroalimentação positiva que sustentam a cascata até que uma ou mais proteínas
plasmáticas participantes sejam completamente consumidas.
O produto final de todo o processo de coagulação é a conversão do
fibrinogênio em fibrina, uma reação catalisada pela enzima trombina
(SILVERTHORN et. al., 2003). O fibrinogênio é uma proteína de alto peso
molecular também sintetizada no fígado, presente em toda circulação sanguínea
A trombina é uma enzima protéica originada da protrombina. É a
enzima que age sobre o fibrinogênio removendo quatro peptídeos de baixo peso
molecular de cada molécula de fibrinogênio formando um monômero de fibrina.
Esse monômero tem a capacidade de se polimerizar com outros monômeros de
fibrina, constituindo longas fibras de fibrina que formam o coágulo (GUYTON et al.,
Após a formação do coagulo podem acontecer duas ações: os
fibroblastos invadem o coagulo, formando um tecido conjuntivo, ou o coagulo se
dissolve através da plasmina (GUYTON et al., 2002).
Nas proteínas plasmáticas existe uma euglobulina chamada
plasminogênio ou profibrinolisina, que quando ativada, transforma-se em plasmina
ou fibrolisina uma enzima proteolítica que se assemelha à tripsina (enzima
digestiva, importante na secreção pancreática). A plasmina é a responsável pela
digestão das fibras de fibrina, assim como as demais substâncias circulantes no
sangue, como o fibrinogênio, Fator V, Fator VIII, protrombina e Fator XII (GUYTON
A digestão dessas enzimas e fatores permite a limpeza lenta do sangue
coagulado no endotélio, melhorando a circulação sanguínea, e obstruindo vasos
A plasmina é formada constantemente em pequenas quantidades e
está presente em todo momento no sangue circulante, o que poderia afetar
seriamente os fatores da coagulação se não fosse a alfa2-antiplasmina, um fator
que se liga a plasmina e inibi e controla sua ação (GUYTON et al., 2002). CAPÍTULO 02 PATOLOGIA GERAL DO SISTEMA CIRCULATÓRIO DEFINIÇÕES GERAIS
O acúmulo de líquidos no tecido é denominado de edema, uma das
conseqüências mais importantes nas patologias do sistema circulatório. Esse
edema é determinado quando há um extravasamento de líquido dos capilares
para os tecidos, em quantidades muito pequenas ou em grandes quantidades,
ocorrendo em três circunstâncias (STEVENS et. al., 2000):
Aumento da pressão hidrostática – interferência na drenagem venosa –
Pressão osmótica reduzida no plasma;
Alteração da permeabilidade vascular – alergias: liberação de histamina e
Stevens e colaboradores (2000) relatam que os dois tipos de edemas
mais importantes são conseqüência da insuficiência cardíaca: edema pulmonar –
acúmulo de líquidos nos alvéolos pulmonares através da pressão hidrostática
elevada no leito vascular dos pulmões, resultante do colapso do coração
esquerdo. E o edema subcutâneo – acúmulo de líquidos nos tecidos subcutâneos
por aumento da pressão hidrostática no sistema venoso sistêmico resultante da
insuficiência cardíaca do coração direito. HEMORRAGIAS
A hemorragia é causada pelo rompimento de um vaso sangüíneo
através de um traumatismo, ou uma lesão pela fragilidade do endotélio causado
por um processo patológico (STEVENS et. al., 2000). O sangramento para os
tecidos ou cavidades do organismo resulta em vários tipos de hemorragias:
Hematoma – acúmulo de sangue nos tecidos moles;
Hemopericárdio – acúmulo de sangue na cavidade pericárdia decorrente da
Hemotórax – acúmulo de sangue nas cavidades pleurais – ruptura da aorta;
Hemoperitônio – acúmulo de sangue na cavidade peritoneal;
Hemartrose – acúmulo de sangue em um espaço articular;
Petéquias – normalmente são pequenas hemorragias teciduais,
freqüentemente encontradas na pele, decorrentes da fragilidade anormal
dos pequenos vasos e anormalidades da coagulação sangüínea. TROMBOSE
O trombo é uma massa sólida e estruturada, constituída de
componentes sangüíneos que formam o sistema cardiovascular. O coágulo, ao
contrário, é uma massa de sangue não estruturada, que se forma quando o
sangue coagula fora do sistema circulatório (STEVENS et. al., 2000).
A trombose, ou processo de formação de trombos é resultante da
ativação do sistema normal de coagulação sangüínea. A agregação plaquetária,
mantida pela rede de fibrina, constitui um mecanismo normal de hemostasia, que
ocorre constantemente, restaurando os defeitos nos vasos sangüíneos, que é
removida posteriormente pela fibrinólise realizando a degradação do trombo.
Existem vários mecanismos fisiológicos que impedem a trombose
excessiva, entretanto, na trombose patológica o trombo continua sendo formado
além da capacidade de fibrinólise, constituindo uma massa anormal que acaba
obstruindo o vaso (ROBBINS et. al., 2000).
A trombose pode ocorrer em qualquer local do sistema circulatório, pois
possuem diferentes agentes causais e aspectos macroscópicos diversos. Os
trombos formados nas artérias de circulação rápida e nas câmaras cardíacas
possuem um conteúdo relativamente alto de plaquetas e fibrinas, são muitos
sólidos, pálidos e apresentação laminações proeminentes. Os trombos formados
nas veias (fluxo lento) são constituídos de uma alta proporção de hemácias
apreendidas, em relação à quantidade de plaquetas e fibrinas, e são tipicamente
vermelhos, de textura macia e gelatinosa, com poucas laminações (ROBBINS et.
Após o desenvolvimento do trombo em um vaso podem ocorrer quatro
evoluções principais. O trombo pode aumentar em tamanho ao longo do vaso
sanguíneo (propagação) ou pode sofrer lise pela ação do sistema fibrinolítico.
O crescimento de tecido de granulação na parede do vaso pode se
estabelecer, permitindo a organização do trombo, que é gradualmente substituído
por este tecido, com o aparecimento de novos canais vasculares que conectam o
local de oclusão restabelecendo o fluxo (recanalização). Por outro lado, os
fragmentos podem se desprender do trombo e se locomoverem pela circulação
causando impactos em outros vasos, num processo chamado tromboembolismo
EMBOLIAS
A oclusão de um vaso por um material transportado na corrente
circulatória pode ser denominada de embolia. Esse material é denominado de
êmbolo, e o tipo mais comum resulta de fragmentos circulantes do trombo
(tromboêmbolos) (STEVENS et. al., 2000).
A tromboembolia ocorre quando uma massa de trombo se desprende
do seu local de formação e atinge a corrente sangüínea, onde é transportada
alcançando vasos com lúmen extremamente reduzido que não permitem sua
passagem ocorrendo à oclusão do vaso (STEVENS et. al., 2000).
Os tromboêmbolos podem ter várias origens, dentre eles: veias
sistêmicas, passando pelo coração com impacto no sistema arterial pulmonar
causando tromboembolismo pulmonar; coração, circulando através da aorta
alcançando a sistema arterial sistêmico, onde ocorre uma colisão com arteriais
cerebrais, renais, intestinais e membros inferiores, e outras.
Um dos exemplos de embolias mais comum é o tromboembolismo
pulmonar, que na maioria das vezes pode-se evitar o óbito quando o paciente está
hospitalizado. Na sua maioria é provocada por êmbolos originados de tromboses
de veias profundas das pernas, porém, nem todos os êmbolos pulmonares são
originados das pernas. O seu diagnóstico é difícil, pois os sinais e sintomas são
inespecíficos e de resolução espontânea (ROBBINS et. al., 2000).
Em outros casos de tromboembolismo pulmonar têm-se a embolia
pulmonar central, cerca de 10% dos casos, ocasionada por meio do bloqueio de
artérias pulmonares médias, causando dificuldade na respiração até o infarto
O aumento da pressão arterial e a isquemia pulmonar são as duas
principais conseqüências de embolismo arterial pulmonar. Com o bloqueio
vascular, a um comprometimento de 60% da vascularização pulmonar, onde
coração não consegue bombear o sangue para os pulmões, ocorrendo um
colapso cardiovascular. O músculo cardíaco realiza batimentos, mas não
desenvolve a ejeção sangüínea, causando a embolia pulmonar maciça. Nesses
casos o óbito é rápido em 5% dos casos (STENVENS et. al., 2000).
A grande maioria dos infartos é decorrente da obstrução do suprimento
arterial para os tecidos, resultando uma necrose tecidual, onde os tecidos não
recebem o fluxo sangüíneo adequadamente, causando a morte do tecido.
Os exemplos mais comuns de infartos são o infarto do miocárdio
(ataque cardíaco), infarto cerebral (derrame cerebral), infarto pulmonar, gangrena
de membros inferiores, que contribuem para uma das causas mais importantes de
morbidade e mortalidade (STEVENS et. al., 2000).
Após a oclusão arterial, a área afetada é pouco definida, pálida e
edemaciada. Em aproximadamente 48 horas o tecido necrosado apresenta-se
mais definido pálido e amarelado. Conforme o processo inflamatório agudo se
apropria no tecido uma borda hiperêmica avermelhada torna-se visível, separando
o tecido normal da área infartada. Em dez dias, há o crescimento do tecido de
granulação, a organização progride e a área infartada é finalmente substituída por
cicatriz colagenosa (KUMAR et. al., 1994).
As veias também quando bloqueadas provocam necrose hemorrágica,
constituindo o infarto venoso ou, uma isquemia, quando a oclusão do vaso é lenta.
Os tecidos ficam inundados de sangue, tornado-se incapaz de drená-los através
das veias, enquanto que as artérias o sangue flui normalmente, provocando a
congestão e rápida elevação da pressão nos pequenos vasos, resultando no
rompimento da parede do endotélio (STEVENS et. al., 2000).
O infarto venoso também pode ser observado no cérebro, com oclusão
dos seios venosos por trombose (ROBBINS et. al., 2000). DOENÇAS ARTERIAIS
Doenças arteriais e suas conseqüências constituem causas importantes
de morbidade e mortalidade no mundo inteiro, principalmente a maioria dos países
ocidentais, sendo a arteriosclerose a mais comum delas que contribui com 50%
nos casos dos óbitos no ocidente (STEVENS et. al., 2000).
A arteriosclerose é uma doença sistêmica que caracteriza a perda da
elasticidade das paredes das artérias, diminuindo o diâmetro do lúmen arterial e a
perda da capacidade de contração e relaxamento, resultando na diminuição do
fluxo sangüíneo através da hipertensão isquêmica (ROBBINS et. al., 2000).
Outra doença arterial de importância é a ateroma, que constitui a
degeneração de artérias de grande e médio calibre, pela deposição de material
rico em lipídios nas artérias, associado com reações celulares resultando lesões
denominadas de placas causando a oclusão do vaso (STEVENS et. al., 2000). ANEURISMAS
É caracterizada pela dilatação de uma artéria, causando rompimento e
a predisposição da trombose. Embora a causa mais freqüente seja a
arteriosclerose esta não é a única doença a produzir aneurisma. Outras
anormalidades como enfraquecimento e hipertensão são importantes na dilatação
e ruptura dos aneurismas (ROBBINS et. al., 2000).
Segundo Stevens et. al. (2000), a hipertensão é um fator importante na
predisposição do aneurisma, presente em 70 % dos casos, e as alterações
degenerativas da média aórtica, que alguma das vezes surge como parte de um
distúrbio genético hereditário dos tecidos de sustentação, como síndrome de
Marfan, por deficiência de fibrina, e síndrome de Ehlers-Danlos. Já a aterosclerose
constitui a predisposição com a fissura íntima nas bordas de uma placa
CAPÍTULO 03 APLICAÇÃO FARMACOTERAPÊUTICA DOS ANTICOAGULANTES DE VIA ORAL ANTICOAGULANTES DE VIA ORAL
Os fármacos anticoagulantes possuem a função de inibir o
desenvolvimento inadequado e o crescimento dos coágulos e suas ações sobre a
fase da coagulação, sendo freqüentemente utilizados no tratamento e prevenção
de tromboses, infartos e outras patologias dos distúrbios da coagulação
sangüínea. Seu efeito terapêutico leva até três dias para instalar-se
completamente, pois depende da síntese dos fatores da coagulação (FUCHS et.
Esses medicamentos são derivados cumarínicos (varfarina,
femprocumom, acenocumarol e dicumarol) e indandiônicos (indandiona,
anisindiona), sendo a varfarina a mais utilizada por ser a mais confiável da classe
terapêutica (KATZUNG, 2004). Em relação à farmacocinética e biodisponibilidade
não há diferença significativa, pois todos são estabelecidos como dose única
diária de acordo com o INR (International Normalised Ratio) (FUSCH et. al., 1998).
O uso clínico dos anticoagulantes cumarínicos deve-se a descoberta de
uma substância anticoagulante formada na forragem de trevo doce estragado que
quando ingerida pelo gado produzia uma deficiência de protrombina plasmática,
resultando numa doença hemorrágica. O agente tóxico foi identificado como bis-
hidroxicumarina e sintetizado com o nome de dicumarol. Essa droga e seus
derivados como a varfarina são amplamente utilizados como raticidas, além de
sua aplicação como anticoagulante em seres humanos (KATZUNG, 2004). VARFARINA 1.1.1. HISTÓRIA
A varfarina foi descoberta no Canadá e nos Estados Unidos, no início
do século XX, onde agricultores do norte dos dois países começaram a cultivar
Trevo-de-Cheiro (Melilotus officinalis) importado da Europa. Além de ser uma
planta com bom potencial nutricional os agricultores perceberam que quando
ingerida pelo gado provocava hemorragias espontâneas (REMIÃO, 2004).
Em 1921, Schofield, veterinário, associou a doença ao consumo de
forragem de Trevo-de-Cheiro estragado. Sabia-se que a planta fresca continha
cumarina, que não era patogênica, porém, a causa da hemorragia foi descoberta
Karl Paul Link e os seus colaboradores em 1940, explicando que a cumarina é
oxidada a 4-hidroxicumarina, reagindo com o formaldeído formando o dicumarol,
um anticoagulante, sendo este o responsável pela presença da doença. O
dicumarol foi patenteado e usado terapeuticamente como anticoagulante em 1941
Em 1946, Link dedicou-se a novos estudos para o desenvolvimento de
anticoagulantes orais. Num trabalho de controle de roedores descobriu que o
dicumarol era um raticida fraco, sendo o 3-(2-acetil-1-feniletil)-4-hidroxicumarina o
mais potente. Os direitos de patente foram atribuídos à fundação que financiou o
trabalho, WARF (Wisconsin Alumni Research Foundation), que derivou o nome
warfarin, sendo WARF + cumarin (DHARMANANDA, 2004).
Figura 1 – Estruturas químicas da cumarina e seus derivados. Fonte: Care Group Health
Em 1948, a varfarina foi lançada no mercado como um raticida potente
e após três anos um recruta da marinha norte-americana tentou, sem sucesso, o
suicídio com uma dose de varfarina de 567mg. A sua surpreendente recuperação
induziu o desenvolvimento de estudos sobre as propriedades anticoagulantes da
varfarina em humanos (REMIÃO, 2004). Descobriu-se que a sua eficácia era
bastante superior à do dicumarol, sendo este rapidamente substituído pela
varfarina. Em 1954, no mesmo ano em que a varfarina foi comercializada, o
presidente Eisenhower dos Estados Unidos, foi submetido ao tratamento com
varfarina depois de um episodio de ataque cardíaco, sendo creditado juntamente
com outras intervenções médicas o sucesso de sua recuperação
Atualmente a varfarina é o tratamento de eleição para terapia oral
anticoagulante em longo prazo, sendo uma das drogas mais prescritas atingindo
11º posição do ranking de 1999, perdendo para antiulcerosos, antidepressivos, e
1.1.2. FARMACOLOGIA E QUÍMICA
A varfarina é administrada na forma de sal sódico, com
biodisponibilidade de 100%, onde quase 100% ligam-se à albumina plasmática,
tendo um pequeno volume de distribuição (espaço albumínico), o que prolonga
sua meia-vida no plasma por aproximadamente 36 horas e diminui a excreção
urinária do fármaco inalterado (KATZUNG, 2004).
A varfarina é derivada da 4-hidroxicumarina ou da indan-1,3-diona e
possui grande semelhança estrutural com a vitamina K (CHARLES et.al., 1994),
composta de uma mistura racêmica com dois estereoisómeros, a varfarina
levógena S é quatro vezes mais potente do que a varfarina dextrógira R, o que
compreende as várias possibilidades de interações medicamentosas (KATZUNG,
Figura 2 – Estrutura química da varfarina. Fonte: Faculdade de Farmácia do Porto, Toxicologia e
1.1.3. MECANISMO DE AÇÃO
O mecanismo de ação da varfarina assim como os demais fármacos
cumarínicos, baseiam-se no bloqueio da y-carboxilação de vários radicais de ácido
glutâmico existentes na protrombina e nos fatores de coagulação VII, IX e X. Esse
bloqueio resulta na formação de moléculas incompletas, que são biologicamente
inativas no processo da coagulação (KATZUNG, 2004).
A varfarina é um fármaco antagonista da vitamina K. Seu efeito
anticoagulante ocorre pela interferência do ciclo da vitamina K, através da
interação com a enzima vitamina K-redutase, onde a vitamina K inativa em sua
forma hidroquinona e epóxido vitamina K-redutase não voltam a ser vitamina K,
limitando a coagulação sangüínea (quinona) (REMIÃO, 2004).
Após a administração a varfarina leva de 8 a 12 horas para iniciar a sua
ação farmacológica. O efeito anticoagulante é resultante de um equilíbrio entre a
síntese parcialmente inibida e a degradação inalterada dos quatro fatores da
coagulação vitamina K-dependentes, dependendo da velocidade de degradação
São necessários vários dias para a instalação completa da ação
farmacológica, dependendo das meias-vidas de eliminação dos fatores VII, IX, X e
II (6, 24, 40 e 60 horas respectivamente), sendo o fator VII o primeiro a ser afetado
devido sua meia-vida de 6 horas, seguido pelos fatores IX, X e II (REMIÃO, 2004). ABSORÇÃO, METABOLISMO E EXCREÇÃO
Após administração oral, a varfarina possui absorção rápida e completa
no trato gastrointestinal, mais uma vantagem quando comparada aos outros
fármacos da classe (CHARLES et al, 1994).
O volume de distribuição é pequeno, pois as moléculas da varfarina se
ligam fortemente à albumina plasmática. Após sua ingestão a concentração
máxima no sangue leva uma hora, mas em virtude do seu mecanismo de ação,
esse pico não coincide com o efeito farmacológico máximo, que ocorre
aproximadamente 48 horas mais tarde (REMIÃO, 2004).
O efeito de uma dose única só começa depois de 12 a 16 horas e dura
4 a 5 dias. A Varfarina é metabolizada pelasdo e o seu
tempo de meia-vida é muito variável, sendo da ordem de 40 horas em muitos
Após a metabolização pelas enzimas do microssomais do citocromo
P450, a varfarina é eliminada, passando por metabólitos hidroxilados inativos e por
redutases a metabolitos reduzidos (alcoois da varfarina), sendo eliminados através
da urina e numa menor quantidade pela bílis (metabolitos hidroxilados). Alguns
desses metabólitos têm sido identificados como a dihidrovarfarina, um par de
alcoóis diasterioisomérico (KATZUNG, 2004).
As isoenzimas doenvolvidas no metabolismo desta substância incluem CYP2C9, 2C19, 2C8, 2C18, 1A2 e 3A4. A CYP2C9 é provavelmente a forma predominante nodo fígado humano que modula a actividade anticoagulante da Varfarina in vivo (S-Varfarina é principalmente metabolizada via CYP2C9 enquanto que a R-Varfarina é parcialmente metabolizada pela CYP1A2 e CYP3A4) (REMIÃO, 2004).
Assim como outros fármacos, a metabolização da varfarina pode sofrer
alterações com a presença de uma disfunção hepática e em indivíduos com a
idade avançada, porém, não há alterações significativas em casos de disfunções
A excreção da varfarina como já mencionado ocorre pela urina, sendo
encontrado menos de 1% da dose administrada na forma do metabólito 7-
hidroxilado e praticamente nenhuma concentração é encontrada nas fezes
1.1.4. TOXICIDADE E REAÇÕES ADVERSAS
A varfarina atravessa facilmente a placenta, e pode causar distúrbios
hemorrágicos ao feto, pois é teratogênica. Além disso, o fármaco pode causar um
grave defeito congênito ocorrendo formação anormal dos ossos (KATZUNG,
2004). Durante a amamentação pode-se encontrar concentrações de varfarina no
leite materno, sendo importante o cuidado, pois, recém-nascidos possuem uma
deficiência natural de vitamina K, devido sua síntese incompleta no intestino
A principal reação adversa observada durante a farmacoterapia dos
anticoagulantes de via oral é a hemorragia. O sangramento é notável, por
exemplo, na pele, mucosa e membranas, e pode ser oculto como nas hemorragias
gastrointestinais, cerebrais, hepáticas, uterinas e pulmonares. Em casos mais
raros podem ocorrer necrose do intestino delgado, urticária, diarréia, necrose
cutânea e dermatite (KATZUNG, 2004). 1.1.5. CONTRA INDICAÇÕES E INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Em geral os anticoagulantes de via oral são contra-indicados na
presença de ulcerações gastrointestinais ativas ou pretéritas; trombocitopenia;
doenças hepáticas ou renais; hipertensão maligna; cirurgia cerebral, ocular ou
medular recente; endocardite bacteriana; alcoolismo crônico; e gravidez. A
varfarina também não deve ser prescrita para indivíduos que vivem em ocupações
fisicamente perigosas (KATZUNG, 2004).
A terapia prévia ou concomitante com um grande número de
medicamentos sem nenhuma relação farmacológica, pode tanto potencializar ou
diminuir as ações da varfarina. O tempo de protrombina do paciente deve ser
monitorizado sempre que um medicamento é acrescentado ou removido do
esquema terapêutico (KATZUNG, 2004).
Segundo Bisson, (2003), as interações medicamentosas podem ser
classificadas em farmacocinéticas e em farmacodinâmicas, sendo as
farmacocinéticas interações que modificam os parâmetros de absorção,
distribuição, metabolismo e excreção. As interações farmacodinâmicas são
caracterizadas pelas alterações no equilíbrio dinâmico na ligação do fármaco às
proteínas plasmáticas e a sua concentração livre no sangue responsável pelo
São conhecidas várias interações medicamentosas relacionadas à
varfarina sódica. Bisson (2003) relata que a varfarina é campeã de interações
medicamentosas, tendo como resultado quase sempre a potencialização do efeito
anticoagulante aumentando o risco de hemorragia. Essas interações também
podem acelerar a eliminação da varfarina do organismo ou bloquear os seus
efeitos, reduzindo o INR (International Normalised Ratio), aumentando o risco de
desenvolver um coagulo (DHARMANANDA, 2004).
Um exemplo de interação medicamentosa com a varfarina é a
associação de cimetidina na farmacoterapia, onde há um aumento do efeito
anticoagulante por um período de 7 a 17 dias, tornando-se fundamental monitorar
o tempo da protrombina por duas semanas após iniciar a cimetidina, ajustando a
dose durante e após a terapia concomitante. Além disso, essa interação pode ser
evitada substituindo a cimetidina pela ranitidina ou antiácidos sucralfatos
A associação terapêutica do amiodarona em pacientes com uso de
varfarina demonstrou uma elevação significativa na relação normalizada
internacional (INR). A amiodarona é um inibidor poderoso do sistema da enzima
do citocromo P450 e a varfarina submete-se ao metabolismo através da mesma
isoenzima, potencial principal à prolongação de níveis normalizados internacionais
elevados. Quando administrado a amiodarona a uma diminuição na dose da
varfarina descompensado a disponibilidade do fármaco, diminuindo o INR
Um estudo realizado sobre interações medicamentosas com a varfarina
demonstrou que até mesmo o uso de infusões de plantas medicinais sem a
orientação e monitorização de um médico e um farmacêutico, pode causar sérios
danos a saúde. Segundo Souza (2006) o uso concomitante de varfarina e
camomila (Matricaria chamomilla) poderiam potencializar o efeito anticoagulante,
causando hemorragia, devido à presença de substâncias cumarínicas na
camomila (7-metoxicumarina e 7-hidroxicumarina). CAPÍTULO 04 ATRIBUIÇÕES E IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO CLÍNICO FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA
O primeiro conceito de farmácia clínica surgiu em 1960 caracterizando-
a como prestação de serviços farmacêuticos ao paciente voltados a terapia
farmacológica, seus efeitos adversos e interações indesejáveis. Além disso, houve
uma conscientização nesse serviço sobre a importância da intervenção
farmacêutica, previnindo os erros na farmacoterapia do paciente (FERRACINI et.
A atenção farmacêutica surgiu com intuito de cooperar e aprimorar a
terapia do paciente, onde o farmacêutico atua junto a outros profissionais de
saúde, buscando o melhor caminho para uma farmacoterapia segura e de
sucesso, focando na qualidade de vida do paciente (MELO et. al., 2003).
Em 1990 Hepler e Strand definiu pela primeira vez o conceito de
atenção farmacêutica como a provisão responsável do tratamento farmacológico
com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de
vida dos pacientes. Posteriormente, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
estendeu o beneficio da Atenção Farmacêutica para toda a comunidade e ainda
reconheceu o farmacêutico como um dispensador de atenção à saúde, que pode
participar ativamente na prevenção de enfermidades e na promoção da saúde,
junto com outros membros da equipe de saúde (OMS, 1995).
Desde então, surgem discussões sobre este tema na busca do
entendimento do significado desta prática, objetivando sua adaptação e integração
aos modelos de saúde de cada país (IVAMA et. al., 2002).
ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO CLÍNICO NO USO DE ANTICOAGULANTES DE ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO
Quando se fala em anticoagulantes de via oral são várias as
preocupações do farmacêutico clínico no acompanhamento farmacoterapêutico.
Sendo as principais: ajuste da dose e posologia, adição e associação de
A varfarina apresenta uma margem terapêutica estreita, sendo
pequena a diferença entre a dose terapêutica e a o que faz
necessário a monitorização de doses e adição de novos medicamentos. O efeito
desejado (anticoagulante) só é observado após dois dias da sua administração e
existem condições e fatores que podem modificar a sensibilidade à varfarina, o
que torna a terapia complicada (REMIÃO, 2004).
No acompanhamento farmacoterapêutico o farmacêutico clínico pode
utilizar exames de análise sangüínea (TAP) para controlar os efeitos da varfarina,
de acordo com o tempo de protrombina (PT). Os resultados são expressos nos
termos da relação normalizada internacional (INR) que indica quanto tempo leva
para coagular o sangue, comparando o uso e não uso de um anticoagulante, o
que representa cerca de 10-14 segundos (DHARMANANDA, 2004).
De acordo com os resultados obtidos no INR, o farmacêutico clínico
pode fazer ajustes nas doses prescritas pelo médico, a ainda realizar intervenções
na prescrição médica quando identificado algum erro ou problemas relacionados à
terapia. Essa intervenção deve ser documentada e informada ao médico
prescritor, constituindo um elo entre o farmacêutico, médico e paciente
Após a prescrição médica da varfarina, o farmacêutico inicia o trabalho
de acompanhamento farmacoterapêutico, observando o aparecimento de reações
adversas como, frio, perda de apetite, dor de estômago e cólicas, que
normalmente são aliviadas depois de alguns dias, porém em outras situações
podem ocorrer reações mais graves resultando necrose da pele
A hemorragia é o principal vilão na farmacoterapia, que na maioria dos
casos podem ser facilmente detectada como a presença de contusões, sangue na
urina, sangramentos no nariz e outros orifícios. O problema se agrava quando
ocorre uma hemorragia interna trazendo graves resultados e até mesmo a morte
do paciente como, por exemplo, numa hemorragia cerebral (REMIÃO, 2004).
Além da análise da prescrição, ajuste da dose e prevenção de reações
a adversas, durante o acompanhamento farmacoterapêutico o farmacêutico clínico
deve fornecer informações educativas quanto aos cuidados necessários durante
todo o tratamento, desenvolvendo uma linguagem acessível ao paciente instruindo
sobre os cuidados com manuseio de materiais cortantes e pontiagudos,
procedimentos de depilação, fazer a barba, cortar unhas, entre outros. No
ambiente hospitalar, além de, orientar o médico na prescrição, o farmacêutico
pode ainda orientar a enfermagem quanto ao aprazamento e administração dos
medicamentos, impedindo incompatibilidades de horários e uma possível
Todo esse trabalho do farmacêutico clínico deve ser estabelecido
através de protocolos de conduta clínica dentro da política assistencial da
instituição de saúde, tanto em hospitais com em farmácias ambulatoriais e
comunitárias (FERRACINI et. al., 2005). BENEFÍCIOS DAS AÇÕES DO FARMACÊUTICO CLÍNICO
A primeira avaliação sobre o impacto das ações de atenção
farmacêutica foi realizado nos Estados Unidos utilizando os dados do Projeto
Minnesde Atenção Farmacêutica. Os resultados revelaram um aumento no
número de pacientes com resultados terapêuticos positivos em apenas um ano do
funcionamento do projeto. A resolução dos problemas relacionados a
medicamentos reduziu a complexidade da demanda farmacoterápica. Em síntese
observou uma relação custo-benefício favorável (REIS, 2003).
Restritamente ao protocolo de anticoagulantes de via oral, um estudo
realizado no hospital de Medway em Gillingham, Kent (Inglaterra) envolvendo
1 Minnesota é um Estado dos Estados Unidos da América, sendo o maior da região Centro-oeste.
farmacêuticos no monitoramento e ajuste das doses da varfarina, demonstrou que
os farmacêuticos identificaram várias falhas na terapia do medicamento, não antes
identificada por outros profissionais de saúde incluindo médicos. Os farmacêuticos
realizaram o monitoramento da farmacoterapia e ajustaram as doses conseguindo
controlar melhor os resultados da INR. Ao concluir o estudo o gerente da farmácia
clínica do hospital revelou que as ações desenvolvidas pelos farmacêuticos
removeram todos os problemas relacionados à terapia com varfarina, otimizando o
tratamento e melhorando a qualidade de vida dos pacientes (BODDY, 2001).
Um estudo retrospectivo de pacientes com uso de varfarina foi
desenvolvido para avaliar o índice de hospitalização secundária pelo controle e
uso inadequado de anticoagulantes de via oral. A fase pré-clínica foi determinada
por dados retrospectivos de um ano. Na fase clínica os farmacêuticos clínicos
forneceram as instruções e monitoraram os pacientes evitando complicações
hemorrágicas e tromboembolias, ajustando as doses da varfarina. Os dados
obtidos mostraram que 39% dos pacientes foram hospitalizados na fase pré-
clínica por falta da monitorização adequada, contra 4% na fase clínica, sendo, oito
pacientes hospitalizados por complicações hemorrágicas e quatro por
tromboembolia na fase pré-clinica, e somente uma hospitalização por
complicações hemorrágicas na fase clínica. Em resumo a ação desenvolvida pelos
farmacêuticos clínicos no uso dos anticoagulantes de via oral estabeleceu uma
terapia melhorada comparada ao tratamento recebido pelos pacientes na fase pré-
A preocupação pelas complicações presentes na terapia com
anticoagulantes de via oral despertou o interesse do Centro Médico da
universidade de Baylor (Texas, EUA) a implantar o protocolo de farmácia clínica
para a monitorização do uso da varfarina. Esse protocolo incorporou diretrizes
clínicas e evidências médicas atuais. Os resultados clínicos implantados foram
comparados com os do cuidado usual através da prática médica em um estudo
piloto entre agosto de 2004 a novembro de 2004. Os resultados mostraram que
ambos os grupos conseguiram controlar a dose da varfarina num prazo de seis
dias. Entretanto, os pacientes monitorizados pelos farmacêuticos dentro dos
protocolos da farmácia clínica exibiram uma baixa probabilidade de sofrer reações
adversas, sendo 7% contra 14% do grupo controle. Baseado nesses resultados e
em outros estudos que comprovam os benefícios da inserção do serviço do
farmacêutico clínico no protocolo de anticoagulantes, o centro médico da
universidade de Baylor estendeu o protocolo para uso em todo o hospital em 2005
Os estudos relatados acima mostram um impacto favorável dos
serviços de farmácia clínica sobre a efetividade, qualidade de vida e custo-
benefício. Portanto é importante a realização e publicação de pesquisas bem
delineadas analisando a relevância da atenção farmacêutica para os sistemas de
COMENTÁRIOS FINAIS
Os anticoagulantes de via oral são medicamentos de grande
importância na terapêutica de tromboses e embolias, entre outras. No entanto seu
uso torna-se complicado devido à necessidade de monitorização contínua pela
grande probabilidade de interações medicamentosas e aparecimento de reações
De acordo com os estudos citados e os demais já publicados o
farmacêutico clínico, possui a capacidade de prevenir e diminuir de forma
significativa essas interações e reações adversas, com base nos protocolos do
serviço de farmácia clínica, direcionando a equipe multidisciplinar ao melhor
caminho para uma terapia segura e de sucesso, tendo como foco a qualidade de
No Brasil o serviço de farmácia clínica está ainda em fase de
desenvolvimento. Alguns hospitais brasileiros que ocupam lugar de destaque têm
buscado cada vez mais implantar esse serviço a fim oferecer assistência a saúde
de qualidade. Um dos desafios da categoria farmacêutica é modificar as condutas,
incorporando na prática profissional um modelo que propicie ao farmacêutico
assumir a responsabilidade com a farmacoterapia e atuar como promotor do uso
racional de medicamentos, realizando com afinco a atividades da atenção
farmacêutica, desenvolvendo a farmácia clínica, trazendo benefícios tanto para o
médico, a instituição de saúde e o mais importante ao paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Case: 10-10956 Document: 00511764779 Page: 1 Date Filed: 02/22/2012 IN THE UNITED STATES COURT OF APPEALS FOR THE FIFTH CIRCUIT United States Court of Appeals Fifth Circuit CHRISTOPHER TYLER LOFTON, Individually and on behalf of the Estateof Christopher M. Lofton, deceased; TEGAN NICOLE LOFTON, individuallyand on behalf of the Estate of Christopher M. Lofton, deceased; LAURENLOFTON,MC