Gestão do conhecimento, da organização que
aprende e de competências: a era digital
Armando Cuesta Santos
Ao ministrar um curso à distância sobre Gestão Empresarial para
A tradução deste texto do idioma espanhol para o
executivos de alto nível de uma empresa de âmbito nacional —
português foi feita por María Nuria Mauleón Montes
realizado em outro país —, efetuar uma consultoria em outra
empresa para determinar os perfis de competência adequados a
seus altos dirigentes, e infundir em todos eles o conceito de
organização que aprende, alcançou-se um conjunto de experiênciase considerações que, à luz de uma obra de Bill Gates (1999) sobrea “era digital”, será aqui apresentado. Essa era do conhecimento é,igualmente, a era da maior produtividade do trabalho, e quem nãoassimilar tal fato não poderá competir, o que equivale a dizer quenão sobreviverá no início deste século XXI. Palavras-chave: gestão empresarial, gestão do conhecimento, gestão de
competências, gestão da organização que aprende,era digital. 1. INTRODUÇÃO
Bill Gates, em sua obra de 1999, Business at the speed of thought, publicada
nesse mesmo ano na espanha com o título Los negocios en la era digital, des-taca que: “Se os anos oitenta foram o decênio da qualidade e os noventa o dareengenharia de processos, o primeiro decênio a partir de 2000 será o da velo-cidade”. E, efetivamente, no âmbito da gestão empresarial, esse primeiro decê-nio que termina em 2010 será o da velocidade da informação e do conhecimen-to — embora apenas para uma parte da humanidade, é justo lembrar. Ao refe-rir-se Gates à era digital, com a marca indelével da Internet, defendendo paraas empresas “a rede nervosa digital”, sua tese de que os negócios devem acom-
Armando Cuesta Santos, Psicólogo, Master em
panhar a velocidade do pensamento torna-se um axioma. Isso implica transfor-
Organização do Trabalho, Doutor em Ciências
mação radical na gestão empresarial de ponta, cuja essência converteu-se atu-
Econômicas, é Professor Titular da Faculdade de
almente em gestão do conhecimento, gestão da organização que aprende e ges-
Engenharia Industrial da Universidad Tecnológica
tão de competências, tudo necessariamente unido à digitalização ou à informa-
de La Habana (ISPJAE), Havana, Cuba.
tização, o que significa maior produtividade do trabalho.
R.Adm., São Paulo, v.38, n.1, p.77-83, jan./fev./mar. 2003 notas & comunicações — Armando Cuesta Santos
Contar com adequada infra-estrutura ou logística de comu-
A aludida “velocidade” de Gates (1999) está intimamente
nicações e informática, ao lado de pessoas com alto nível de
relacionada à gestão do conhecimento gerador de maior pro-
qualificação ou competência, é condição sine qua non para a
dutividade do trabalho, no sentido de agregar maior valor por
gestão empresarial desta era da velocidade. Sem tal infra-es-
participante ou pessoa no desempenho ou no processo de ne-
trutura em Cuba, que possibilitou o uso do e-mail e da Internet,
gócio. A gestão do conhecimento compreende, em sua acepção
e um competente grupo de professores, não teria sido possível
mais atual, o capital intelectual (EDVINSSON & MALONE,
desenvolver um curso à distância sobre Gestão Empresarial,
1999). A gestão do conhecimento é um conceito mais amplo
da maior atualidade, para executivos do primeiro escalão de
do que a gestão da organização que aprende e a gestão de com-
uma empresa que possuía gerências em todas as províncias do
petências, embora abarque essas duas concepções. Sem pre-
país, e realizá-lo ao mesmo tempo em que o professor titular
tender teorizar e procurando observar seu lado operacional para
ministrava seus conhecimentos em um curso de especialização
efeitos de gestão empresarial, administrar conhecimentos é hoje
em Administração de Negócios que se desenrolava em outro
gerir pessoas (com suas diversas manifestações passadas, pre-
país, a uma distância de mais de 9.000 quilômetros; nesse mes-
sentes e futuras). Tal conhecimento não é concebido em senti-
mo período, ele também prestava consultoria para outra em-
do tradicional, cognitivista, já ultrapassado; a pessoa é com-
presa cujo objetivo era o de desenhar os perfis de competên-
preendida como um todo holístico, com suas características
físicas, conhecimentos, habilidades, sentimentos e valores, ou
O conjunto de atividades descrito abarcou um período de
seja, tendo em conta sua complexidade. Esses três conceitos
pouco mais de dois meses e envolveu mais de cem profissio-
relacionam-se essencialmente com um elemento-chave ou fun-
nais com altos cargos de direção em suas respectivas empre-
damental, a comunicação, tanto em sua acepção psicossocio-
sas; nenhum deles abandonou as tarefas pertinentes a seus pos-
lógica (implicando cada vez mais, simultaneamente, a partici-
tos de trabalho durante o processo de aprendizagem. Esses pro-
pação, a interatividade ou o envolvimento das pessoas) quanto
fissionais tomaram melhores decisões do que em igual período
em sua acepção tecnológica (na qual é determinante o teletra-
em etapas anteriores, aprenderam mais, interagiram com mai-
balho que, por sua vez, pressupõe a teleformação).
or freqüência com os demais diretores, reduziram significati-
A comunicação é hoje decisiva na gestão empresarial e em
vamente os custos de formação e aumentaram o seu compro-
sua busca por maior produtividade do trabalho. Nesses termos,
misso com a organização ou o sentimento de pertencer a ela. O
referia-se Gates (1999): “Mas, acima de tudo, uma empresa
professor titular, nesse caso também consultor, percebeu que
necessita comunicar-se com seus clientes e agir segundo o que
havia realizado mais gestão de conhecimentos do que em igual
aprende com essa comunicação. Essa necessidade de comu-
período de todas as etapas de trabalho já realizadas. Tudo isso
nicar-se com eficácia será um tema recorrente neste livro. De-
significou assumir a “velocidade” do pensamento em conso-
monstrarei que nas empresas bem sucedidas a “rede nervosa
nância com o desempenho nos negócios que caracteriza esta
digital” tende a fazer com que todos os processos estejam vol-
era digital e sua logística informática. Caracterizar tais experi-
tados para essa missão, a mais importante em qualquer organi-
ências e expor as considerações que elas geraram constitui o
A busca dessa informação já é gestão do conhecimento,
englobando pessoas competentes para alcançá-la; assim, a
2. CONSIDERAÇÕES DECORRENTES DAS
empresa “aprende com essa comunicação”, insiste Gates (1999). EXPERIÊNCIAS E A VELOCIDADE
A assimilação do conceito de organização que aprende éconsubstancial a esta época nas empresas de ponta. Senge
As experiências mencionadas — o curso à distância sobre
(1998), um dos autores clássicos que abordou esse conceito,
Gestão Empresarial para executivos do mais alto nível da Em-
insistiu, com sua defesa da “quinta disciplina”, na visão de sis-
presa de Telecomunicaciones de Cuba S.A. (Etecsa), a consultoria
tema exigida pela aprendizagem organizacional, apontando que
para a alta direção do Grupo Empresarial del Tabaco en Cuba
o conjunto de funcionários da empresa deve conhecer o pro-
(Tabacuba), com o objetivo de determinar os perfis de competên-
cesso de trabalho em sua totalidade e nas diferentes interações
cias de seus principais dirigentes, e as aulas ministradas pessoal-
de suas partes, compreendendo, inclusive, fornecedores e dis-
mente no curso de especialização em Administração de Negó-
cios realizado em Sucre, Bolívia, pela Faculdade de Economia
Procurando determinar a essência desse conceito de orga-
da Universidade de Havana —, concomitantemente, em um perío-
nização que aprende, aponta-se a seguir duas definições:
do de dois meses e meio, procurando ao mesmo tempo infundir o
• “As organizações que aprendem são aquelas nas quais as
conceito de organização que aprende naqueles dirigentes, con-
pessoas estimulam continuamente sua capacidade para criar
duziram às considerações abordadas a seguir, que poderão servir
o futuro que realmente gostariam de ver surgir” (SENGE,
de estímulo para que seja definitivamente assumida a “velocida-
de” do pensamento em consonância com os desempenhos ou
• “A organização que aprende é um conceito que envolve o
coração e a mente dos funcionários em uma mudança contí-
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nua, harmoniosa e produtiva, projetada para alcançar os re-
empresas que adotariam a aprendizagem organizacional
sultados almejados pela organização” (GARVIN et al., 1998).
(BARTLETT & GHOSHAL, 1998) —, entre as quais consta- vam as destacadas Microsoft, Intel e Skandia —, chegou a iden-
Assim é a concepção de uma organização que aprende, re-
tificar três atributos essenciais da capacidade para assimilar o
sultado da interação de três elementos essenciais que gera um
sistema: as individualidades ou pessoas que aproveitam sua
• Muito tempo e esforço dedicados a atrair, desenvolver e
capacidade para conhecer e criar, a organização que busca re-
sultados de acordo com sua missão e seus objetivos, e a mesma
• Investimento em recursos substanciais na criação de ferra-
organização assegurando a sinergia ou a interação sistemática
mentas e processos necessários para dar apoio a fluxos hori-
zontais de conhecimento. Esses fluxos permitiam elevar o
Embora haja identificação do autor deste texto com Engels
conhecimento individual e inseri-lo em um processo coleti-
(1995), quando afirma que “as definições são cientificamente
inexatas, porque limitam o desenvolvimento da própria essên-
• Desenvolvimento de forte sentimento de confiança, que pas-
cia” — e também quando acrescenta: “mas não é fácil prescin-
sou a ser a base do desenvolvimento da capacidade indivi-
dir delas” —, menciona-se a pesquisa elaborada por um grupo
dual e da aprendizagem organizacional.
de consultores dos Estados Unidos da América (GARVIN etal., 1998), por sua contribuição para a definição de organiza-
O primeiro atributo está associado à gestão de competên-
ção que aprende. Essa pesquisa foi aplicada em um trabalho
cias, que será abordada mais adiante. O segundo atributo, que
realizado recentemente (CUESTA, 2001b). Os itens da pes-
se refere à determinação dos fluxos horizontais de conheci-
quisa são considerados os melhores atributos para a definição
mento, pressupõe generalizar na empresa uma nova mentali-
de organização que aprende; se o total de respostas indicar a
dade. Gates (1999) diz que se deve “romper com o hábito men-
opção “sempre”, melhor será o resultado para a empresa. Em
tal de que obter e fazer circular a informação é difícil e caro”.
tal pesquisa, que recebeu a denominação de “O teste da orga-
E argumenta: “Para pôr a informação em prática é preciso que
nização que aprende”, solicita-se, para cada uma de suas oito
o pessoal da empresa possa acessá-la com facilidade. Estáva-
declarações, assinalar uma das seguintes alternativas: sempre,
mos, até o momento, condicionados a acreditar que “os núme-
freqüentemente, às vezes, quase nunca, nunca. Listam-se a se-
ros” deveriam ficar reservados aos altos executivos. Alguns
dirigentes devem ser ainda partidários da idéia de reter a infor-
• A organização “aprende com a experiência” e não repete os
mação em interesse da confidencialidade, entretanto, o que li-
mitava em boa parte o acesso à informação era, simplesmente,
• Quando alguém deixa a organização, seu conhecimento per-
a dificuldade para obtê-la. Conseguir que a informação circu-
lasse custava muito tempo, esforço e dinheiro”.
• Quando conclui uma tarefa, a equipe divulga a documenta-
O curso à distância desenvolvido na Etecsa facilitou a de-
terminação de fluxos horizontais de conhecimento, mediante
• O conhecimento gerado em todas as áreas da empresa é
sistemática interatividade de seus participantes. Tais fluxos
pesquisado, legitimado e posto à disposição de toda a orga-
constituem importante via para cumprir o objetivo principal
nização por meio de bancos de dados, treinamento e outros
do aperfeiçoamento empresarial. Nesse curso, tomou-se como
conceito norteador para o aperfeiçoamento e melhora empre-
• A organização reconhece e recompensa o valor do conheci-
sarial a action research (na acepção de Kurt Lewin, 1948) ou,
mento gerado e compartilhado por pessoas e equipes.
como se denomina atualmente, formação-ação. Em outras pa-
• A organização avalia de modo sistemático suas necessidades
lavras, os dirigentes em formação interpretam e compreendem,
futuras de conhecimento e desenvolve planos para atendê-las.
adquirem conhecimentos e trocam informações, assumindo
• A organização facilita a experimentação como um meio de
como uma constante a participação ativa de todos na transfor-
mação ou mudança. Nesse tipo de curso, fazer é essencial para
• A organização estimula sua capacidade de gerar, adquirir e
mudar. Na pedagogia implícita subjaz a idéia de Confúcio:
aplicar o conhecimento, aprendendo com os processos de
“Ouço e esqueço. Vejo e recordo. Faço e compreendo”. O fa-
aprendizagem de outras organizações. zer nas redes de equipes de dirigentes, e fazer em suas respec- tivas realidades, implica a participação ativa na transformação
É de grande relevância estratégica para a empresa de ponta
ou mudança e o desenvolvimento de maior compromisso com
e bem-sucedida reconhecer, neste início do século XXI, a ne-
a instituição ou do sentimento de pertencer a ela. A cultura do
cessidade da atividade de formação contínua de seus recursos
teletrabalho vai-se impondo, com o pressuposto inevitável da
humanos na organização, procurando também que seja assimi-
lado o conceito de organização que aprende. Um estudo que
Muito tempo e esforço dedicados a atrair, desenvolver e
compreendeu um período de seis anos, realizado com vinte
manter seus melhores funcionários configuram as atuais exi-
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gências para uma boa gestão de competências na empresa. A
Deve-se ressaltar que tal gestão é consubstancial à educação (a
gestão do desempenho por competências enfoca essencialmente
formação em seu sentido mais completo) e ao conceito de orga-
o desenvolvimento, o que as pessoas serão capazes de fazer
nização que aprende (NONAKA & TAKEUCHI, 1997; SENGE,
no futuro. O pensamento estratégico e a proatividade são ine-
1998; GARVIN et al., 1998; RODRÍGUEZ, 1999).
rentes a essa gestão. Atualmente, a gestão de competências na
Em colaboração, McClelland e Boyatzis (BOYATZIS,
empresa implica maior integração entre estratégia, sistema de
1982) realizaram um estudo sobre as características pessoais
trabalho e cultura organizacional, ao lado de maior conheci-
dos funcionários da American Telephone and Telegraph (ATT)
mento das potencialidades das pessoas e de seu desenvolvi-
e suas relações com a promoção hierárquica dentro da organi-
zação. A Boyatzis (1982) deve-se uma das definições mais uti-
Esse conceito almeja o incremento da produtividade do tra-
lizadas para estabelecer o conceito de competências: “Caracte-
balho ou do rendimento ou o aumento do bom desempenho, e
rísticas subjacentes à pessoa em relação de causa com o bom
se relaciona principalmente com atividades-chave, como for-
mação, avaliação do potencial humano, seleção de pessoal e
Alguns autores defendem a idéia de que se uma competência
não é observável, não pode ser considerada como tal. Insistem
A gestão de competências nasce no campo da Psicologia
em que as competências devem ser mensuráveis de maneira ob-
Organizacional, imersa em teorias motivacionais, procurando
jetiva. Vista desse ângulo, a liderança não seria uma competên-
uma explicação para o bom desempenho no trabalho; cabe agora
cia. Essa orientação não é compatível com a definição anterior.
incluí-la na necessária interdisciplinaridade da Gestão de Re-
Tais posicionamentos devem ser diferenciados, pois implicam
cursos Humanos (GRH). A complexidade de seu objeto não
distintas percepções do conhecimento que se procura.
poderá ser desconsiderada: as competências das pessoas na
É necessário saber que a gestão de competências, associa-
interação com seu trabalho, o ambiente e a cultura organiza-
da à formação e, especialmente, à seleção de pessoal, nasceu
cional, no qual a psicologia humana e a sua epistemologia ocu-
dentro do paradigma positivista e da psicologia condutista ex-
pam importante lugar. A gestão de competências surge com
perimental, conforme a qual o fato ou o dado sensorial cons-
o corte do paradigma positivista e com a marca do pragmatis-
tatavam uma realidade científica, junto ao método asséptico,
mo, alcançando o auge na prática empresarial avançada e de
aistórico e objetivo. Conseqüentemente, o subjetivismo, de
êxito a partir da década de 1990 (LEVY-LEBOYE, 1997;
difícil apreensão para esse método tradicional do positivismo,
MARTÍNEZ-ABELDA & CASTILLO, 1998; HERRANZ &
tornou-se fator relegado (GONZÁLEZ, 1993).
Tornou-se claro que o modelo causal mecanicista da física
Ainda não existe consenso sobre o conceito de gestão de com-
clássica, em consonância com o positivismo, não funciona na
petências, nem a respeito da própria acepção de competências.
generalidade do objeto da Psicologia, e se questiona a existên-
Nesse sentido, exerce grande influência seu caráter intangível e
cia de dados independentes das teorias que os demandam e,
sua recente incorporação ao campo da gestão empresarial.
em parte, constróem. Assim, o próprio método é influenciado
Em estudos realizados sobre o desempenho no trabalho de
pelo pesquisador, pela história do sujeito e do objeto, bem como
profissionais com nível universitário no âmbito da gestão, re-
pela cultura predominante, o que debilita o valor aistórico e
lacionaram-se seus coeficientes de inteligência (CIs) com o
objetivo do método, no qual o dado responde parcialmente à
bom desempenho (GOLEMAN, 1997). Acreditava-se que aos
teoria construída pelo sujeito do conhecimento.
altos CIs alcançados durante a atividade universitária deveriam
O conhecimento necessário, em particular o psicológico,
corresponder, posteriormente, altos padrões de desempenho. En-
deverá ser tratado nessa relatividade objetiva, histórica e cul-
tretanto, não foi o que ocorreu. Na medição do CI considerava-se
tural. Para poder percebê-lo em seu contexto histórico ou em
apenas o pólo cognitivo da inteligência da pessoa (raciocínio
sua historicidade, é preciso atentar para a cultura organizacional,
abstrato, memória, discriminação perceptiva etc.), manifestado
por meio da qual se compreende o conjunto de valores materi-
em seus conhecimentos e habilidades em disciplinas como Mate-
ais e espirituais existentes em uma época para determinada
mática, Física, História etc. Não obstante, o pólo emocional (afe-
organização. Esses valores estão refletidos no comportamento
tos, sentimentos, valores etc.) não era levado em conta.
humano por meio do conjunto de crenças, convicções, atitudes
A gestão de competências, expressão cunhada no início da
década de 1970 por McClelland (1973), enfatizada no final da
Por outro lado, e é muito importante insistir nisso, as com-
década de 1990 por Goleman (1997), o que contribuiu para
petências devem ser consideradas como o nexo entre as con-
seu ressurgimento, é de suma importância. A resposta à uni-
dutas ou os desempenhos individuais com a estratégia da orga-
versal pergunta, em qualquer processo de seleção de pessoal,
nização (HAMMEL & PRAHALAD, 1994) e o sistema de tra-
“Que formação deve possuir o profissional adequado para de-
balho adotado. Embora as competências, no sentido em que
sempenhar satisfatoriamente este cargo?” encontrará bom ní-
vêm sendo abordadas, devam ser desenvolvidas em todos os
vel de aceitação mediante o enfoque holístico e o caráter ad hoc
funcionários, é prioritário desenvolvê-las nos dirigentes, que
ou de roupa sob medida exigidos pela gestão de competências.
deverão assumir o papel de formadores de seus subordinados,
R.Adm., São Paulo, v.38, n.1, p.77-83, jan./fev./mar. 2003 GESTÃO DO CONHECIMENTO, DA ORGANIZAÇÃO QUE APRENDE E DE COMPETÊNCIAS: A ERA DIGITAL
principalmente no que concerne à formação de equipes, pro-
petências do conteúdo do cargo, e responde principalmente
movendo o coaching ou treinamento e direção, como se fosse
às questões: o que fazer?, como fazer? e para que o fazer?
uma equipe esportiva (CUBEIRO & FERNÁNDEZ, 1998;
(compreendendo também o conjunto saber e querer fazer
no momento de definir o perfil de competências dos candi-
Administrar as competências das pessoas será, na era digi-
datos ao cargo). Nesse profissiograma ou perfil de compe-
tal, um elemento determinante para a realização de negócios à
tências do cargo, as referidas competências a serem determi-
velocidade do pensamento. Bill Gates (1999) afirma: “Você
nadas estarão intimamente relacionadas com os requisitos
saberá que construiu um excelente ‘sistema nervoso digital’
físicos e de personalidade, bem como com as responsabili-
quando a informação circular pela organização com a mesma
dades a serem assumidas pelo profissional que ocupará o
rapidez e naturalidade com as quais o ser humano faz circular
cargo. Esse conjunto tem em conta as condições de trabalho
seu pensamento, e quando a tecnologia servir para reunir e
(iluminação, ruído, microclima etc.) e a cultura organiza-
coordenar equipes de pessoas com a mesma facilidade com
cional em questão, que refletem as crenças ou convicções,
que você explica qualquer questão a um indivíduo. Isso é fazer
atitudes e aspirações predominantes.
negócio à velocidade do pensamento”.
A partir dessas considerações fundamentais, a gestão de
• Os perfis de competências definidos pelas organizações para
competências adquire caráter funcional ou operacional por meio
seus cargos são, em essência, conjuntos de competências
de pressupostos teórico-metodológicos. Os pressupostos apre-
secundárias (holísticas em sua totalidade) apresentados com
sentados a seguir nortearam a determinação dos perfis de com-
descrições mais ou menos detalhadas de pautas de condutas
petências para dirigentes do Grupo Empresarial Tabacuba.
(dimensões) que exemplificam o desenvolvimento de uma
Utilizou-se, posteriormente, o método Delphi por rodadas
competência. O quadro a seguir ilustra o que foi dito.
(CUESTA, 2001a) para configurar tais perfis. Perfis de Competências
• As pessoas são competentes não só do ponto de vista cogni-
tivo, mas também do emocional. Assim, como um todo (bio-
Competência Pautas de Conduta (Dimensões)
lógico, psicológico e social), o indivíduo é competente ou
não em determinadas atividades ou dimensões do desempe-
• O futuro do bom desempenho dos recursos humanos e, prin-
cipalmente, dos dirigentes, estará cada vez mais relacionadocom a acepção holística implicada nessas competências, com-
preendidas não apenas por incluir conhecimentos e habili-
conseqüências econômicas de seutrabalho.
dades para realizar o trabalho (saber fazer), mas também atitudes, valores e caraterísticas pessoais vinculados ao bom
desempenho nele (querer fazer).
• As competências são caraterísticas subjacentes às pessoas,
que, enquanto tendência, mantêm relação de causa com o
bom desempenho no trabalho contextualizado em determi-nada cultura organizacional.
• Existem competências básicas ou primárias, assentadas em
aptidões (raciocínio abstrato, expressão verbal etc.), traços
• Para a adequada gestão de competências, a direção estraté-
de personalidade (ascendência, autoconfiança etc.) e atitu-
gica da organização deve ter claras sua missão e sua visão,
des (predisposição ao risco, ao bom senso de humor etc.).
seguindo um projeto coerente do sistema de trabalho. A par-
Existem, igualmente, competências secundárias ou comple-
tir dessa missão, devem ser definidas as competências fun-
xas, baseadas em dimensões complexas que compreendem
damentais da organização ou, o que é equivalente, o peque-
várias competências primárias (capacidade de negociação,
no conjunto de competências essenciais (core competences),
de maneira que os dirigentes da organização não se disper-sem ou percam a perspectiva fundamental.
• A configuração do perfil de competências, derivado da ati-
vidade-chave de GRH denominada Análise, projeto e des-
Para fazer justiça e também contribuir para uma análise
crição de cargos, parte da determinação rigorosa das com-
mais completa do tema em questão, no plano contemporâneo,
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não se poderia deixar de mencionar esta última reflexão. Gates
passadas, presentes e futuras, é atividade determinante na era
(1999) refere-se à sociedade do conhecimento, que compreen-
digital defendida por Gates (1999). Ainda que se disponha da
de aquilo que ele denomina “era digital”. Em 1993, Drucker
mais avançada infra-estrutura informática e de comunicações,
aludiu claramente a essa sociedade em sua obra Post-capitalist
sem a gestão do conhecimento — que cada vez mais se con-
society. Anteriormente, em 1992, na obra La guerra del siglo
verte em essência da gestão empresarial — não haverá “era
XXI, Thurow, então decano da Escola de Negócios do Instituto
Tecnológico de Massachusetts, bem definiu entre quem se da-
As empresas que queiram sobreviver na alvorada do sécu-
ria a guerra: apenas entre os habitantes do Norte e os da proe-
lo XXI não têm alternativa a não ser assumir o desempenho de
minente China. Aqueles que pertencem à “sociedade do des-
seus negócios à “velocidade” do pensamento, o que leva impre-
conhecimento”, isto é, a parte preterida por Drucker ou aquela
terivelmente a lançar mão de adequada gestão do conhecimen-
não mencionada por Gates ou, ainda, a que não sobreviverá,
to, na qual a gestão de competências e da organização que apren-
como está implícito em Thurow, ao que parece não ingressa-
de serão bases da referida velocidade. O vertiginoso avanço
empresarial, apresentado neste início de novo milênio, traz
Os integrantes da “era não-digital”, constituída por toda
consigo o signo da competitividade, fazendo desaparecer aque-
essa parte do mundo subdesenvolvido, como vem claramente
las empresas que não forem capazes de manter níveis cada vez
advertindo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-
mais altos de desempenho nos negócios ou de produtividade
mento (PNUD) desde seu Relatório sobre o desenvolvimentohumano (1996), e que tão bem demonstrou Forrester, ensaísta
Em Cuba existem possibilidades reais de entrada na “era
francesa, em seu livro O horror econômico (1997), ao que pa-
digital”. O país possui infra-estrutura informática e de comu-
rece não sobreviverão. Ou, como parece evidente, essa parte
nicações, bem como pessoas competentes, e cada vez mais
da humanidade simplesmente não conta. Ainda que pela injus-
deverá aproveitar o maior valor agregado, o que significa as-
sumir o desempenho à velocidade do pensamento. Não sãopoucos os países que carecem dessas possibilidades e que es-
3. CONCLUSÕES
tão cada vez mais internados na “sociedade do desconhecimen-to”. Tal realidade não pode ficar à margem das análises, pois
A gestão de conhecimentos, que vem a ser gestão de pesso-
essa outra parte do mundo não suportará tal injustiça e o plane-
as em sua complexidade, considerando suas manifestações
ta inteiro será afetado e transformar-se-á.u
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Making to distance course about Enterprise Management for directives of first level into enterprise having the nationalambit — lecturer at once in other country —, developing one consultory in another enterprise in order to competenciesprofile for your high management, and introducing to all the conception of learning organization, was obtained an
ABSTRACT
ensemble of experiences and reflections that, together to considerations of book’s Bill Gates of 1999 about the “digitalera”, the author want expose. Uniterms: business management, knowledge management, competencies management, learning organizations Gestión del conocimiento, de la organización que aprende y de competencias: la era digital
Dictando un curso a distancia sobre Gestión Empresarial para directivos del primer nivel en una empresa que comprendíael ámbito nacional — impartido desde otro país —, realizando una consultoría en otra para determinar los perfiles de
competencias para sus integrantes de la alta dirección, e inculcando a todos esos directivos la concepción de organizaciónque aprende, se alcanzó un conjunto de experiencias y reflexiones que, a la luz de una obra de Bill Gates de 1999acerca de la “era digital”, se quiere exponer. Esta era del conocimiento es, además, la era de la mayor productividaddel trabajo, a la cual, quienes no accedan no podrán competir, que equivale a no sobrevivir a los inicios de este sigloXXI. Palabras clave: gestión empresarial, gestión del conocimiento, gestión de competências, gestión de la organización que
R.Adm., São Paulo, v.38, n.1, p.77-83, jan./fev./mar. 2003
Compulsory Licenses in Austria 1.: Historical development of the regulations in the Patent Act: The instrument of compulsory licenses has been provided with the first Patent Act of1897 as a measure to counter the patent right in the case of (reasonable) publicdemand for a patented invention or misuse of the patent right, e.g. by non working animportant invention in Austria. Another measure
Symposium on Design, Test, Integration & Packaging of MEMS/MOEMS Cannes, Côte d’Azur, France – 25-27 April 2012 Sponsored by 3-Oct-11 Chair: Bernard COURTOIS, CMP Grenoble, France Co-Chair: Jean-Michel KARAM, MEMSCAP, Bernin, France P r e l i m i n a r y C a l l f o r P a p e r s CAD, DESIGN AND TEST Conference MICROFABRICATION, INTEGRAT