Terapêutica da dor na cirurgia de cães e gatos: revisão Francisco Lima Silva Catarina Rafaela Alves da Silva Amilton Paulo Raposo Costa RESUMO Procedimentos cirúrgicos realizados em animais são comumente utilizados na prática
veterinária, principalmente em procedimentos eletivos, como por exemplo nos casos de esterilizações, devido a seu principal objetivo de controle populacional e o possível aparecimento de doenças do trato reprodutivo. Submeter um animal a um procedimento cirúrgico vulnerabiliza a sentir dor aguda, e o uso no pré-cirúrgico de analgésicos opioides e anti-infl amatórios é de suma importância, denominado de analgesia preemptiva. A dor não tratada pode acarretar sérios danos ao animal, que vão desde um retardo na recuperação pós-cirurgia, como a progressão para cronicidade. Este trabalho teve como objetivo fazer uma revisão sobre o assunto analgesia na clínica de cães e gatos, devido o tema ser de grande relevância para rotina clínico-cirúrgica de pequenos animais. Palavras-chave: Analgesia preemptiva. Anti-infl amatório. Opioide. Dor. Surgical treatment of pain in dogs and cats: Review ABSTRACT Surgical procedures performed on animals are commonly used in veterinary practice,
especially for elective procedures, such as in the case of sterilization, because their main goal of population control and the possible emergence of diseases of the reproductive tract. Submit an animal to a surgical procedure violated the acute pain and surgical use in pre opioid analgesics and anti-infl ammatory drugs is of paramount importance, which is called preemptive analgesia. The pain left untreated can cause serious damage to the animal, ranging from a delay in recovery from surgery, such as progression to chronicity. This study aimed to review on the subject of clinical analgesia in dogs and cats, because the topic is of great importance for clinical routine small animal surgery. Keywords: Preemptive analgesia. Anti-infl ammatory. Opioid. Pain. INTRODUÇÃO
A dor é um mecanismo de defesa que, quando não tratada, pode desencadear
hiperalgesia e sofrimento duradouro (PENNING, 1996). A agência Americana de
Francisco Lima Silva é Médico Veterinário, PhD, Professor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária – UFPI/PI. Catarina Rafaela Alves da Silva é Médica Veterinária, Mestre, Doutoranda em Ciência Animal – UFPI/PI. Amilton Paulo Raposo Costa é Médico Veterinário, PhD, Professor do Departamento de Morfofi siologia Veterinária – UFPI/PI. Endereço para correspondência: Hospital Veterinário Universitário, Universidade Federal do Piauí. Campus Agrícola da Socopo. CEP: 64.049-550. Teresina – PI. E-mail: [email protected]
Pesquisa e Qualidade em Saúde e a Sociedade Americana de Dor descrevem a dor como o quinto sinal vital (SOUSA, 2002), devendo sua presença ser registrada juntamente com a pressão arterial, temperatura, frequência cardíaca (pulso) e frequência respiratória, sendo estes últimos os quatro sinais vitais primários, elementos fundamentais da hemodinâmica (SILVA, 2010).
O avanço da ciência do bem-estar animal aguçou o senso crítico da necessidade
de prevenção e tratamento da dor nos animais. Nesse contexto, portanto, é de suma importância o conhecimento sobre os fármacos utilizados para o controle da dor. Pois atualmente existe uma conscientização evidente da presença potencial da dor e de suas consequências negativas para o bem-estar e o estado geral da saúde (PENNING, 1996). DOR E ANALGESIA: CONCEITOS E IMPORTÂNCIA
A dor é um fenômeno importante na Medicina Veterinária, pois acomete diretamente
a recuperação dos doentes e, em situações extremas, pode até conduzir à morte (CASTRO, 2008).
A dor é defi nida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor – IASP
(International Association for the Study of Pain) como “experiência sensorial e emocional desagradável, associada à lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termos relacionados à lesão” (SLULLITEL; SOUSA, 1998).
A dor pode ser classifi cada em aguda e crônica. A dor aguda alerta para a presença
de uma lesão tecidual real ou potencial, exercendo, portanto uma importante função biológica. Desta forma, a capacidade de perceber a dor pode ser um mecanismo de sobrevivência. No entanto, a dor crônica pode também causar um sofrimento insuportável. Este tipo de dor apresenta uma natureza multidimensional, perdendo a função biológica que caracteriza a dor aguda (RIBEIRO et al., 2002).
Os processos dolorosos acarretam uma série de alterações fi siológicas que podem
ser gravemente deletérias, como a diminuição da ingestão de água e alimentos resultando em perda de peso, perda proteica e até desidratação (PULZ et al., 2005).
A dor aguda, além do sofrimento, contribui para a ocorrência de complicações
pós-cirúrgicas. A sensibilização central, quando estabelecida, é difícil de suprimir, prejudicando o controle da dor. A injúria tecidual produzida pelo ato cirúrgico desencadeia uma reação infl amatória, com consequente aumento na liberação de prostaglandinas, uma das substâncias responsáveis pelo estímulo de nociceptores (ALVES et al., 2001).
Combinações de opioides e AINES são atualmente usados na prática veterinária
(SELI et al., 2005), resultando em ação sinérgica, o que proporciona controle satisfatório da dor pós-cirúrgica (GANEM et al., 2003).
A analgesia perioperatória para OSH em cadelas é conseguida geralmente por
meio do uso simultâneo de três tipos diferentes de analgésicos (SHIH et al., 2008), os
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opioides, AINES e anestésicos locais (MCQUAY, 1992). Isto consiste em analgesia multimodal ou regime analgésico equilibrado, que envolve um efeito analgésico aditivo ou sinérgico (SELI et al., 2005).
A meta da anestesia moderna é assegurar que aqueles pacientes submetidos a
cirurgia despertem da anestesia com controle da dor e mantenham este controle ao longo do período de convalescença. Administrar analgésicos antes de o paciente emergir da anestesia geral pode resultar em estado de conforto para o paciente no período pós-cirúrgico. Isto é considerado analgesia preventiva (PENNING, 1996).
Prevenir o desenvolvimento de sensibilização central é melhor do que tratar a
dor já estabelecida. Este é o principal objetivo da analgesia preemptiva que é defi nida como um tratamento antinociceptivo que impede a alteração no processamento central da entrada aferente, que amplifi ca a dor pós-cirúrgica (ONG et al., 2005). É uma estratégia para se obter analgesia pós-cirúrgica efi ciente, com redução da “memória da dor”, atenuando a sensibilização central induzida pela cirurgia (ALVES et al., 2001). Além disso, diminui signifi cativamente a dose dos fármacos anestésicos requeridos para indução e manutenção e permite que o animal seja mantido em um plano anestésico ideal, minimizando o grau de depressão cardiorrespiratória induzida pelos anestésicos (BRONDANI et al., 2003).
A dor não controlada não é apenas moralmente problemática, mas biologicamente
prejudicial, podendo desencandear hiperalgesia e sofrimento permanente. Por afetar numerosos aspectos da saúde física, prejudica a saúde, o bem-estar dos animais e pode até mesmo, se for grave e sufi cientemente intensa, provocar a morte (PENNING, 1996). FISIOPATOLOGIA DA DOR
No início do século XXI, acumulou-se um grande conjunto de conhecimentos
básicos e de critérios neuroanatômicos e neurofi siológicos sobre o homem e os animais, assim como a compreensão da fi siologia da dor (PENNING, 1996). A dor informa ao indivíduo sobre o perigo real ou potencial para sua integridade física. É considerada de duas formas: dor fi siológica e dor patológica (PISERA, 2005).
A dor fi siológica induz respostas protetoras, como refl exo de retirada e/ ou reação
de fuga, com o intuito de interromper a exposição ao estímulo nocivo. No entanto, a dor persistente pode levar a um estado de depressão semelhante ao desencadeado por estímulos estressantes inevitáveis e, por consequência, não pode ser considerada uma resposta adaptativa. Além disso, durante estados dolorosos prolongados, a estimulação persistente dos aferentes nociceptivos induz alterações tanto centrais como periféricas, que aumentam os efeitos deletérios da dor crônica, a qual passa a assumir o caráter de dor patológica (PISERA, 2005).
A dor pode ser desencadeada por vários tipos de estímulos, que são classifi cados
em mecânicos, térmicos e químicos (GUYTON; HALL, 2006). Os estímulos gerados
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são captados pelos nociceptores, conduzidos por fi bras aferentes, interneurônios na medula espinhal, chegando ao hipotálamo, córtex cerebral e sistema límbico, onde a dor é reconhecida, em termos de localização, natureza e intensidade (ROSA; MASSONE, 2005).
Estados dolorosos prolongados estimulam persistentemente os aferentes
nociceptivos induzindo alterações que aumentam os efeitos deletérios da dor crônica. Esta dor persistente pode ser subdividida em dor nociceptiva e dor neuropática, sendo esta originada de lesões a nervos periféricos ou do sistema nervoso central e aquela resultante de uma ativação direta de nociceptores da pele e outros tecidos em resposta a uma lesão tecidual, acompanhada de infl amação (KLAUMAN et al., 2008), também chamada de dor infl amatória (PISERA, 2005).
Os trajetos nociceptivos podem ser considerados uma cadeia de três neurônios.
O neurônio de primeira ordem, originando-se na periferia e projetando-se na medula espinhal; o neurônio de segunda ordem, seguindo pela medula espinhal; e o de terceira ordem projetando-se no interior do córtex cerebral e de outras estruturas supraespinhais (TRANQUILLI et al., 2005). Esta informação nociceptiva é transmitida ao cérebro através de vias nervosas, localizadas no quadrante anterolateral da medula espinhal. Os tratos espinotalâmico, espinorreticular e o espinomesensefálico são considerados como vias ascendentes mais importantes de condução de impulsos nociceptivos (SLULLITEL; SOUSA, 1998).
Os receptores nociceptivos são representados por fi bras mielínicas A-delta e
amielínicas C, presentes na pele, vísceras, vasos sanguíneos e fi bras do músculo esquelético. As fi bras A-delta, na ausência de dano tecidual ou nervoso, só transmitem informação relacionada a estímulo inócuo como tato, vibração e pressão (FANTONI; MASTROCINQUE, 2009). Quando os nociceptores são estimulados, as terminações nervosas sensoriais livres são ativadas e, dependendo do tipo de estimulação, o potencial de ação será transportado centralmente por uma classe específi ca de fi bras (HELLEBREKERS, 2002).
Os nociceptores que veiculam informações pelas vias A-delta são classifi cados
como tipos 1 e 2. Os nociceptores do tipo I apresentam limiar elevado para estímulos térmicos e são sensíveis a estímulos mecânicos. Os nociceptores do tipo 2 apresentam baixo limiar ao estímulo térmico e geralmente não são sensíveis a estímulos mecânicos. (FANTONI; MASTROCINQUE, 2009).
O termo nocicepção está relacionado com o reconhecimento de sinais dolorosos
pelo sistema nervoso, que formulam informações relacionadas à lesão (KLAUMAN, et al., 2008), consiste em três processos fi siológicos distintos, submetidos à modulação farmacológica (TRANQUILLI et al., 2005). É a transdução, condução e o processamento central dos sinais recebidos geralmente por estimulação dos nociceptores (ROSA; MASSONE, 2005).
A transdução consiste na tradução da energia física (estímulo nocivo) em
atividade elétrica nos nociceptores periféricos que são receptores mecano, termo e
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quimiossensíveis (TRANQUILLI et al., 2005). As informações inócuas ou nocivas são detectadas pelas terminações nervosas que transformam os estímulos ambientais em estímulos elétricos chamados de potenciais de ação (MUIR III, 2009).
Os receptores sensoriais localizados nas fi bras A-beta, A-delta e C demonstram
um alto grau de sobreposição sensorial, ocasionando uma série contínua de sensações. A informação transduzida por estes receptores nervosos é carreada ao SNC pelas fi bras nervosas Aβ, os terminais nervosos das fi bras Aβ normalmente são responsáveis pela transdução de informações sensoriais inócuas. As fi bras nervosas A-delta e C acabam como terminações nervosas livres na pele, no tecido subcutâneo, no periósteo, nas articulações, nos músculos e vísceras. Os terminais nervosos destas fi bras são essenciais para a detecção de todas as sensações de dor (MUIR III, 2009).
A transmissão é a propagação de impulsos nervosos através do sistema nervoso.
As fi bras sensoriais aferentes consistem em fi bras A-delta mielinizadas que conduzem dor rapidamente e fi bras C não mielinizadas que conduzem dor mais lentamente (TRANQUILLI et al., 2005).
Os impulsos elétricos sensoriais e motores (potenciais de ação) levados para
a medula espinhal ou a partir dela, respectivamente, são transmitidos por nervos periféricos, os quais contêm fi bras nervosas aferentes (sensoriais) e eferentes (motoras), que formam, respectivamente, a raiz dorsal e ventral da medula espinhal (MUIR III, 2009). Quando um nervo periférico aferente é ativado e o estímulo é transduzido em um potencial de ação, este é transmitido ao corno dorsal da medula espinhal (MUIR III, 2009).
Os impulsos nervosos periféricos sensoriais são modulados (amplifi cados ou
suprimidos) na medula espinhal, que é dividida em substância branca (axônios ou fi bras nervosas) e substância cinzenta (células nervosas) (MUIR III, 2009).
A modulação ocorre por meio dos sistemas analgésicos descendentes
endógenos, que modifi cam a transmissão nociceptiva. Esses sistemas endógenos (de opioides, serotonérgicos e noradrenérgicos) modulam a nocicepção pela inibição do processamento de estímulos dentro das células do corno dorsal espinhal (TRANQUILLI et al., 2005).
As informações nociceptivas são levadas ao cérebro por feixes de neurônios,
que se originam nas lâminas do corno dorsal, que são: o trato espinotalâmico, que é a via ascendente mais proeminente; o trato espinorreticular, cujos neurônios têm a mesma origem daqueles do trato espinotalâmico e seus axônios terminam na formação reticular e no tálamo; o trato espinomesencefálico, dotado de axônios que se originam nas lâminas I e V e terminam no mesencéfalo; e o trato espino-hipotalâmico, cujos axônios se originam nas lâminas III e IV projetam informações ao hipotálamo e ao prosencéfalo ventral (MUIR III, 2009).
A integração, o processamento e o reconhecimento das informações sensoriais
(percepção) ocorrem em múltiplas áreas específi cas do cérebro, que se comunicam
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via interneurônios para produzir uma resposta integrada que refl ete as contribuições coordenadas de excitação, de estímulos aferentes somatossensoriais, e estímulos eferentes autônomos e somáticos (MUIR III, 2009).
A percepção, conquanto não seja considerada uma parte do processo nociceptivo,
resulta de transdução, transmissão e modulação bem-sucedidas e da integração das funções talamocortical, reticular e límbica para produzir a experiência subjetiva e emocional consciente fi nal da dor (TRANQUILLI et al., 2005).
A memória de dor é formada por diversos fatores, incluindo o padrão
comportamental do animal, o ambiente, a expectativa de dor e a intensidade dos eventos dolorosos. O pico de intensidade da dor é o fator que, isoladamente, tem maior importância na determinação da memória de dor. Pacientes que possuem uma memória inerente de dor ou de um evento doloroso signifi cante são difíceis de ser tratados, e aqueles pacientes nos quais foi permitido que a dor persistisse por períodos maiores que 12 a 24 horas são menos responsivos à terapia analgésica (MUIR III, 2009). ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA DOR
A dor causa várias interferências nos eixos neuroendócrinos, com aumento nos
níveis de aldosterona, causando retenção de sódio e desequilíbrio hidroeletrolítico, aumento de cortisol, que induz hiperglicemia e liberação de catecolaminas, desencadeadoras de alterações cardíacas como arritmias e aumento no consumo de oxigênio pelo miocárdio (CAMARGO et al., 2007).
Dentre os hormônios hipofi sários, o adrenocorticotrópico (ACTH) estimula a
secreção de corticosteroides em condições de estresse. O cortisol é um parâmetro preciso e consistente para avaliação da resposta neuroendócrina ao estresse cirúrgico, indicando presença de dor (MALM et al., 2005).
Há uma relação direta entre a ativação do eixo hipotalâmico pelo estresse e a
elevação da glicemia (CASTRO, et al., 2003), pois a elevação do cortisol determina o aumento da gliconeogênese hepática e hiperglicemia (CALDEIRA et al., 2006), e tem uma razão inversa entre a concentração plasmática de glicose e a atividade neuronal hipotalâmica (CASTRO et al., 2003).
RECONHECIMENTO E QUANTIFICAÇÃO DA DOR
A avaliação da dor em animais se torna uma tarefa desafi adora para os Médicos
Veterinários (CASTRO, 2008), e para sua prevenção e seu possível tratamento é necessário reconhecê-la (LUNA, 2008).
Esta avaliação em animais, da mesma forma que em neonatos humanos,
não é simples, pela difi culdade de interpretar o comportamento aversivo (LUNA,
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2008). Os animais com dor podem fi car deprimidos e indiferentes ao meio, ou, ao contrário, extremamente agressivos, agitados ou vocalizando. Pode-se observar também difi culdade para dormir e inapetência, tentativas de lambedura, mordida ou coceira na região dolorida. Há alterações na postura corporal, e muitos relutam em deitar-se e movimentar-se, para proteger a área dolorida (IMAGAWA, 2006).
Uma avaliação completa da dor deve abranger uma observação não interativa,
empreendida a distância; e uma apreciação interativa envolvendo um estímulo que provoque uma resposta do paciente. Para que a avaliação da dor seja mais fi dedigna possível, ela deve ser seriada e realizada, de preferência, por um mesmo observador (CÔRTES, 2006). Várias escalas têm sido introduzidas na prática clínica de pequenos animais (LUNA, 2008), caracterizadas como métodos subjetivos de quantifi cação da dor (IMAGAWA, 2006).
Estas escalas se baseiam principalmente no comportamento do paciente, e
as mais utilizadas para a quantifi cação da dor em animais são: Escala Analógica Visual (VAS), Escala Numérica Visual (RNS) e a Escala Simples Decritiva (SDS) (MATHEWS, 2000).
A VAS é um método que possui um formato de linha reta não numerada,
apresenta o comprimento de 10 cm, sendo o início da linha representado pelo 0 (zero), interpretando “ausência de dor” e a outra extremidade é representada pelo 10 (dez), indicando “pior ou maior dor” experimentada pelo paciente. O observador treinado deve colocar um ponto nesta reta durante a avaliação, supondo o grau de dor de que o animal esteja padecendo (CÔRTES, 2006; CASTRO, 2008).
A RNS é um método similar de quantifi cação da dor; todavia, o avaliador não
marca um ponto em uma reta, e sim promove uma pontuação numérica de acordo com as atividades do paciente, que são divididas dentro de categorias de comportamentos (CASTRO, 2008).
A SDS consiste em um método de avaliação da dor de menor complexidade,
podendo ser dividida em quatro ou mais categorias: ausência de dor, dor leve, dor moderada e dor grave (CASTRO, 2008).
A escala utilizada na faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de
Guelph, Ontário, proposta por Mathews (2000), possui uma graduação de 0 a 10 e baseia-se na avaliação do comportamento do animal.
Medidas objetivas para a avaliação da dor podem ser utilizadas a fi m de mensurar
parâmetros fi siológicos como: frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial e temperatura (IMAGAWA, 2006). Já avaliações minuciosas de fatores endógenos envolvem determinações bioquímicas, como por exemplo a dosagem de cortisol, que pode auxiliar no diagnóstico da dor em animais (CASTRO, 2008).
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TERAPÊUTICA DA DOR
A analgesia balanceada ou multimodal é obtida da administração simultânea de
duas ou mais classes de fármacos ou técnicas analgésicas. Dentre as classes de fármacos, os anti-infl amatórios não esteroidais (AINES), opioides, agonistas alfa e anestésicos
locais possuem efeitos analgésicos aditivos ou sinérgicos quando coadministrados, podendo as doses ser reduzidas; outras classes de fármacos possuem a característica de intervir no processo da dor como benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes e inibidores da colinesterase (TRANQUILLI et al., 2005).
Uma analgesia de boa qualidade depende da administração correta de
associações de fármacos em doses efetivas e por vias adequadas, resultando na chamada analgesia balanceada. Um controle álgico efi caz baseia-se no princípio de proporcionar aos animais um período pós-cirúrgico ou pós-traumático sem dor, com início do tratamento no período pré-cirúrgico e continuidade nos períodos trans e pós-cirúrgicos (FRAGATA; IMAGAWA, 2008).
A sensação de dor é uma experiência individual, sendo que um animal pode
ter maior sensação de dor do que outro, embora estejam em uma condição similar (MATHEWS, 2000).
Os principais agentes farmacológicos utilizados para o controle da dor
nociceptiva são os Anti-infl amatórios Não Esteroidais – AINES e os analgésicos opioides (IMAGAWA, 2006). Os tratamentos com estes fármacos podem ser feitos para a dor suave, moderada e severa. Para obtenção de resposta satisfatória à terapia analgésica é sempre importante obedecer à individualização de cada paciente (MATHEWS, 2000).
Uma combinação de anti-infl amatórios não esteroidais e opioides confere uma
analgesia efi ciente para procedimentos cirúrgicos de caráter moderado a intenso, cuja infl amação é uma grande característica (MATHEWS, 2000).
A cetamina também possui efeito analgésico, devido a muitos dos seus efeitos
farmacológicos serem mediados por interação com receptores NMDA (FANTONI; CORTOPASSI, 2009). Pode ser usada clinicamente na forma racêmica ou como isômero levo-rotatório (S+cetamina) sendo esta 2 vezes mais potente que a forma racêmica para prevenir a sensibilização central da medula espinhal (OLIVEIRA et al., 2004). Possui profunda analgesia, sendo uma notável vantagem sobre os outros anestésicos parenterais (EVERS, A. S. et al., 2010).
As doses de cetamina para bloquear receptores NMDA são consideravelmente
menores que aquelas necessárias para induzir antestesia cirúrgica, o que explica por que este anestésico conserva propriedades analgésicas mesmo em doses subanestésicas, pois é possível que o bloqueio dos receptores do tipo NMDA em sinapeses de medula espinhal, produzido pela cetamina, explique a redução dos refl exos nociceptivos (FANTONI; CORTOPASSI, 2009).
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Desde a descoberta da propriedade da cetamina em reduzir a sensibilização central
através de seu efeito antagonista dos receptores NMDA, muitos trabalhos experimentais e clínicos com essa medicação para o alívio da dor pós-operatória têm sido realizados (OLIVEIRA et al., 2004).
Em alguns trabalhos, utilizando a mistura racêmica de cetamina por via venosa,
verifi cou-se que houve redução da estimulação central provocada pela formalina em gatos com medula espinhal seccionada no tronco encefálico, obtendo-se melhores resultados quando administrada antes da injeção da formalina. Em ratos, alguns autores verifi caram que por meio da aplicação de cetamina racêmica por via subaracnoidea houve uma redução acentuada da intensidade da dor neuropática induzida. Também em ratos, a cetamina racêmica diminuiu a hiperalgesia periférica provocada por estímulo térmico (OLIVEIRA et al., 2004).
É bastante importante a inclusão dos anestésicos locais para auxiliar na terapêutica
da dor, pois são agentes que bloqueiam a condução nervosa quando aplicados localmente no tecido nervoso em concentração apropriada (MASSONE; CORTOPASSI, 2009). Opioides
Os analgésicos opioides são os mais antigos fármacos analgésicos conhecidos,
pois sua utilização foi descrita há mais de 2.300 anos (ALEIXO; TUDURY, 2005). São bastante efi cazes no controle da dor de modo geral, seja aguda ou crônica, sendo frequentemente utilizados para o controle da dor pós-cirúrgica de grau moderado a intenso (FRAGATA; IMAGAWA, 2008).
O uso de opioides no controle da dor torna-se mais efi ciente quando empregado
preventivamente, aumentando o limiar das fi bras sensitivas aferentes (VALADÃO et al., 2002). Agem por meio da ligação reversível a receptores específi cos localizados no SNC e na medula espinhal, modulando a atividade sensitiva, motora e psíquica (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). Diminuem a resposta álgica produzida pela manipulação cirúrgica e reduzem a concentração de anestésico desejado durante o procedimento cirúrgico (VALADÃO et al., 2002).
Existem quatro classes de opioides: agonistas puros, agonistas parciais, agonistas-
antagonistas e antagonistas (FRAGATA; IMAGAWA, 2008).
Os opioides produzem sua ação analgésica através da afi nidade que possuem
por receptores específi cos distribuídos por todo o corpo (ANDRADE; CASSU, 2008; ALEIXO; TUDURY, 2005). Os receptores de maior repercussão clínica são mi (μ) e o kappa (κ). A excitação advinda da utilização de um opioide em doses altas deve-se à ligação deste receptor sigma (σ) e os efeitos do receptor delta (δ) (CALOEIRO, 2008).
Embora haja relatos sobre a existência dos receptores σ (sigma) e ε (épsilon),
o receptor sigma não é mais considerado como opioide por natureza, uma vez que
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não apresenta afi nidade por naloxona, mas sim pelo haloperidol e pelos derivados da feniciclina. A existência dos receptores opioides épsilon, por sua vez, tem sido controverso, pois ainda não foram clonados e não possuem agonistas ou antagonistas seletivos (MOURA; CONTESINI, 2006). A denominação dos opioides foi substituída, e atualmente estes receptores são referidos como Mi (OP ), Sigma (OP ) e Kappa (OP )
O efeito de um opioide depende da afi nidade que ele possui pelo receptor endógeno
específi co e, consequentemente, aqueles com afi nidade para diferentes receptores causam diferentes efeitos clínicos (ALEIXO; TUDURY, 2005).
O efeito analgésico dos opioides é mediado parcialmente pelas vias descendentes
inibitórias noradrenérgica e serotoninérgica da medula espinhal. A ativação dos receptores espinhais α-2-adrenérgicos pelos neurotransmissores liberados pelos neurônios noradrenérgicos talvez seja a responsável pela modulação da transmissão nociceptiva aferente, resultando nas propriedades antinociceptivas dos opioides (CASSU; LUNA, 2003).
O tramadol é um opioide sintético derivado da codeína, com ação analgésica
central (ALEIXO; TUDURY, 2005). Produz analgesia em estados de dor aguda e crônica pela ação sinérgica entre mecanismos opioides (SANTOS, 2007) e mecanismos não opioides, por meio da inibição da recaptação neuronal de norepinefrina e serotonina (ALEIXO; TUDURY, 2005; FRAGATA; IMAGAWA, 2008).
Este fármaco é fornecido como uma mistura racêmica, que é mais efi caz do que
qualquer enantiômero isoladamente. O (+)-enantiômero se liga ao receptor μ e inibe a captação de serotonina. O (-)-enantiômero inibe a captação de norepinefrina e estimula os α -adrenérgicos (GUSTSTEIN; AKIL, 2010).
Por causa da atividade mista, o tramadol é desprovido de efeitos adversos como
dependência, constipação, depressão respiratória ou efeitos cardiovasculares em animais ou no homem, ao contrário de outros agonistas (ALEIXO; TUDURY, 2005).
O tramadol é um analgésico com menos efeitos colaterais em relação a outros
analgésicos agonistas puros capazes de promover analgesia satisfatória, com efi ciência similar à morfi na, além de permitir a redução da concentração alveolar mínima (CAM) dos anestésicos inalatórios (CASSU; LUNA, 2003). Ocasionalmente, a hipotensão pode ocorrer secundariamente à vasodilatação periférica e pode ser minimizada pela aplicação lenta do medicamento ou limitação da dose (CÔRTES, 2006).
Em cadelas, a duração da analgesia produzida pelo tramadol é bastante infl uenciada
pela via de administração. A via intramuscular possibilita analgesia em torno de 6 horas enquanto a via intravenosa possibilita analgesia por 2 horas (SANTOS et al., 2007). Em doses elevadas, pode apresentar efeitos anticolinérgicos, podendo causar redução da secreção salivar e desmaios (CASSU; LUNA, 2003).
Embora a introdução do tramadol seja recente para uso em pequenos animais,
sugere-se, pelos resultados observados em trabalhos científi cos e pela experiência
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clínica, que esse fármaco possa ser uma alternativa viável e segura para uso nos períodos pré e pós-cirúrgicos na espécie canina (CASSU; LUNA, 2003).
A morfi na é um opioide agonista puro que se liga ao μ e κ (ALEIXO; TUDURY,
2005) e possui moderada analgesia, quando comparada à morfi na (FANTONI; CORTOPASSI, 2009). Possui duração de 1 a 4 horas, quando administrada por via intravenosa ou de 2 a 6 horas, quando administrada por via intramuscular (CUNHA et al., 2002). O principal sítio de ligação da morfi na são os receptores mi (μ) encontrados na medula espinhal (CASTRO, 2008). É o analgésico de escolha para muitos processos álgicos em cães e gatos (FRAGATA; IMAGAWA, 2008), embora possa desencadear efeitos adversos como: alterações gastrintestinais (êmese, defecação ou até constipação); estimulação do hormônio antidiurético, podendo induzir processo de anúria; e depressão cardiovascular e respiratória (CASTRO, 2008).
Seu uso, apesar de muito difundido, ainda é controverso, pela intensa liberação
de histamina causada pela meperidina (assim como amorfi na), mas principalmente pelo fato de a meperidina ser metabolizada em ácido meperidínico e normeperidina (FANTONI; CORTOPASSI, 2009).
A oximorfona é um opioide semissintético, agonista, com efi cácia e duração
idênticas da morfi na (AZEVEDO, 2009). Aplicada em um grau de dor de leve a moderado, seus efeitos colaterais são semelhantes aos da morfi na, mas sem vômitos e sem liberação de histamina (TRANQUILLI, et al., 2005).
A metadona é um analgésico sintético, com meia-vida plasmática de 8 a 40
horas, em administração prolongada (DRUMMOND, 2006). Possui efi cácia similar à da morfi na é um dos opioides μ-agonistas que possui menor probabilidade de causar vômitos (AZEVEDO, 2009). Sua ação analgésica é de 6 a 12 horas permitindo seu uso em dose única diária. Apresenta característica particular de bloquear, além de receptores (mu), os receptores NMDA, o que a torna muito promissora no tratamento das dores neuropáticas (DRUMMOND, 2006).
A hidromorfona é um opioide semissintético. Sua efi cácia é parecida com
da oximorfona e duração analgésica idêntica à morfi na (AZEVEDO, 2009). Pode proporcionar um período de analgesia mais longo em gatos e tem sido associada com a observação ocasional de hipertermia nesta espécie (TRANQUILLI, et al., 2005). Este fármaco não causa vasodilatação e consequente hipotensão, mas pode induzir uma discreta liberação de histamina, sua administração por via intravenosa é relativamente segura e causa menos sedação que os fármacos anteriores (AZEVEDO, 2009).
A meperidina é um agonista puro com afi nidade pelo receptor μ e possui
moderada analgesia quando comparada à morfi na (FANTONI; CORTOPASSI, 2009). É um analgésico de curta duração efeito menor que 1 (uma) hora. Seus potenciais efeitos cardiovasculares estão interligados à sua ação similar inotrópica negativa (AZEVEDO, 2009).
Quando associada à acepromazina, no período pré-anestésico, possui sedação
efi ciente e analgesia profi lática, podendo ser empregada inclusive em animais de risco,
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como por exemplo, portadores de piometra, sem que haja hipotensão ou depressão respiratória importantes, quando empregados em baixas doses, meperidina (1mg/kg), assim como aceprmazina (0,05mg/kg), em cães e gatos, sendo exclusivamente administradas por via intramuscular (FANTONI; CORTOPASSI, 2009).
O fentanil é um opioide sintético agonista μ, com curta duração de ação
(AZEVEDO, 2009). Possui alta potência analgésica, 75 a 125 vezes maior que o da morfi na (FANTONI; CORTOPASSI, 2009), com duração dos efeitos de 30 minutos, é um fármaco bastante seguro, podendo ser bastante útil para infusão contínua (AZEVEDO, 2009). Não ocasiona vômitos, mas provoca queda do volume corrente e da frequência respiratória em animais pré-tratados com barbitúrico. Causa estímulo vagal, quando aplicado por via intravenosa, sendo facilmente evitado com a aplicação de atropina na dose de 0,04 mg/kg por via subcutânea (MASSONE, 2008).
O butorfanol faz parte da classe dos opioides agonistas-antagonistas. Sua ação
mista é resultado de efeito agonista nos receptores κ, promovendo analgesia, e efeito antagonista no receptor μ, podendo antagonizar os efeitos de agonistas μ como morfi na e meperidina (FANTONI; CORTOPASSI, 2009). É mais adequado para o alívio da dor aguda do que da dor crônica, devido seus efeitos colaterais sobre o coração é menos útil que a morfi na e a meperidina em pacientes com insufi ciência cardíaca congestiva ou infarto do miocárdio (GUTSTEIN; AKIL, 2010).
Este fármaco possui uma potência analgésica 3 vezes superior à da morfi na,
doses superiores que 0,8 – 1 mg/kg não aumentam o grau de analgesia devido seu efeito plateau. É também especialmente útil no pós-cirúrgico para reverter a sedação excessiva e a recuperação do refl exo laríngeo(AZEVEDO, 2009).
Ainda na classe de opioides agonistas-antagonistas, a buprenorfi na possui efeito
bastante diferente quanto a este grupo, pois esta é agonista parcial dos receptores μ e antagonista dos receptores κ (AZEVEDO, 2009). É altamente lipofílica, e possui potência de 25 a 50 vezes mais que a morfi na e duração analgésica mais longa que a morfi na (GUTSTEIN; AKIL, 2010) em torno de 8 a 12 horas (FANTONI; CORTOPASSI, 2009). A buprenorfi na antagoniza quase tão bem quanto a naloxona, a depressão respiratória produzida por doses anestésicas de fentanila, sem reverter completamente o alívio opioide da dor (GUTSTEIN; AKIL, 2010).
A buprenorfi na é utilizada na dose de 0,005 a 0,02 mg/kg pela via intramuscular,
pode ser realizada administração por via intravenosa, mas esta deve ser realizada lentamente (FANTONI; CORTOPASSI, 2009). Anti-infl amatórios não esteroidais (AINES)
Na medicina veterinária, os AINES são considerados mais efi cazes que os
analgésicos opioides no quesito duração de ação, sendo amplamente utilizados no controle da dor aguda ou crônica (IMAGAWA, 2006). Estão entre os fármacos mais consumidos no mundo e seu extenso uso é devido aos seus efeitos antiálgicos, anti-
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infl amatórios, antipiréticos (GUÉRIOS et al., 2002; ARAÚJO; BLAZQUEZ, 2007) e antitrombóticos (WANMACHER; BREDEMEIER, 2004) .
Os AINES foram defi nidos como substâncias diferentes dos esteroides e que
suprimem um ou mais componentes do processo infl amatório (DUNCAN; LASCELLES, 2002). Diminuem a infl amação por bloquearem as enzimas responsáveis pela formação de eicosanoides. Estes, entretanto, incluem os prostanoides (prostaglandinas, prostraciclinas, PGI , tromboxano, TXA ) e leucotrienos (DUNCAN; LASCELLES,
2002; PULZ et al., 2005). Previnem o desenvolvimento da hiperalgesia e não devem ser administrados apenas quando o paciente já estiver sentindo dor, mas em intervalos regulares para manter concentração plasmática adequada (ALVES et al., 2001).
A vantagem da utilização dos AINES é a ausência de depressão do sistema
nervoso, cardiovascular e respiratório (SLULLITEL; SOUSA, 1998). Atuam inibindo as cicloxigenases 1 e 2 (COX 1 e COX 2) e podem ser amplamente utilizados para tratar a dor aguda. Seus efeitos analgésicos são potencialmente aumentados pela combinação com opiáceos (OTERO, 2007a).
Os mediadores pró-inflamatórios resultantes da ação da COX 1 estão
representados pelas prostaglandinas relacionadas com os efeitos fi siológicos nos rins, sistema gastrintestinal e cardiovascular (ALENCAR, 2003), no qual é considerado uma isoforma constitutiva (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A COX 2 leva à formação de prostaglandinas presentes no processo infl amatório (ALENCAR, 2003), no qual é considerada uma isoforma indutiva (FRAGATA; IMAGAWA, 2008).
Dentre os anti-infl amatórios não esteroidais, pode-se destacar: o meloxicam,
carprofeno, cetoprofeno, ácido tolfenâmico, fl unixin meglumine, entre outros, estando estes disponíveis em formulações injetáveis (MATHEWS, 2000). Efeitos adversos como úlceras, erosões e sangramentos intestinais, inibição da agregação plaquetária, alterações renais nos glomérulos e túbulos, com evolução de insufi ciência renal aguda ou crônica, hepatotoxidade dose-dependente e associada com o uso prolongado, inibição da motilidade uterina e reações de hipersensibilidade poderão surgir com o uso destes fármacos (FRAGATA; IMAGAWA, 2008).
O meloxicam foi a primeira droga anti-infl amatória não esteroidal seletiva
para COX 2 (NAKAGAWA et al., 2007). É um AINE da classe do ácido enólico. Possui um índice terapêutico elevado e é absorvido em todas as espécies (BUSCH et al., 1998).
Dos inibidores seletivos da COX-2, o Meloxicam potencialmente possui
vantagem em relação aos AINES não seletivos, porque tem eficácia anti-infl amatória, sem os efeitos adversos consequentes à inibição enzimática não seletiva (WANMACHER; BREDEMEIER, 2004). Além disso, proporciona melhor tolerância gástrica (CARNEIRO et al., 2005).
Vale ressaltar que é possível a utilização criteriosa dos AINES em pacientes
geriátricos, tendo a cautela de investigar as funções renal e hepática, antes da
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administração (MATHEWS, 2000). Além disso, sua utilização após trauma só deve ser realizada na ausência de evidências de hemorragia e em quadros de pacientes estáveis e devidamente hidratados (IMAGAWA, 2006). Anestesia local ou regional
As técnicas anestésicas locais e regionais estão bastante difundidas na rotina
anestésica de pequenos animais. O mecanismo de ação dos anestésicos locais é impedir a condução nervosa pelo bloqueio dos canais de sódio, assim restringindo a passagem deste íon através desse canal (OTERO, 2007b; BASSO et al., 2008), impedindo a despolarização da membrana (LOPES; ALMEIDA, 2008).
A anestesia regional pode ser dividida em bloqueios de cabeça, anestesia
do neuro eixo (peridural e raquidiana), bloqueios periféricos (plexo braquial e lombossacral) e outras técnicas, como anestesia regional intravenosa e bloqueios intercostal e interpleural (FUTEMA, 2009).
Dentre os fármacos utilizados para anestesia local, pode–se destacar a lidocaína
e a bupivacaína (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A lidocaína possui um início de ação rápido (1 – 2 minutos) e duração curta (1,5 – 2 horas); a bupivacaína possui um início de ação mais lento (5 a 10 minutos), porém com duração mais prolongada (4 – 6 horas) (DUNCAN; LASCELLES, 2002).
É importante ressaltar a grande vantagem dos anestésicos locais devido ao
seu efeito reversível, após seu emprego, havendo uma recuperação completa da função nervosa sem que se evidencie dano estrutural nas células ou fi bras nervosas (MASSONE; CORTOPASSI, 2009).
Além disso, os benefícios para o paciente, tanto no trans como no pós-cirúrgico,
são indiscutíveis e incluem diminuição das doses dos agentes anestésicos gerais (injetáveis e inalatórios) e da resposta ao estresse cirúrgico, maior estabilidade cardiovascular, rápido despertar, excelente analgesia pós-cirúrgica sem risco de depressão respiratória, menor necessidade de ventilação controlada no pós-cirúrgico de determinadas intervenções, retorno mais rápido do funcionamento gastrintestinal e menor tempo na unidade de terapia intensiva (FUTEMA, 2009).
A anestesia peridural é uma técnica anestésica consagrada, que tem como
principais vantagens a segurança, a efi ciência e o baixo custo. A ausência quase total de depressão cardiorrespiratória favorece sua indicação como técnica anestésica alternativa para animais de alto risco (CANTO; MELLO, 2002).
A técnica de puncionamento do espaço peridural requer grande habilidade e
conhecimento anatômico e, para a sua realização e de grande importância a quietude, do paciente devendo este estar sob efeito de anestesia geral ou sedação (CASTRO, 2008).
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Este procedimento consiste na penetração de uma agulha no espaço lombossacro,
sem atingir as meninges, e a solução injetada percorre o canal por fora da duramáter (MOURA; CONTESINI, 2006); mas antes da realização do procedimento é bastante importante a escolha correta da agulha a ser introduzida no espaço peridural, a qual se correlaciona diretamente com o tamanho do animal (CASTRO, 2008).
O espaço lombossacro no cão está localizado entre a 7ª vértebra lombar e a 1ª
sacral, sendo a identifi cação da região lombossacra realizada através da palpação das proeminências ilíacas (FUTEMA, 2009). Após a identifi cação da região a agulha é introduzida em um ângulo de 90º em relação à pele, passando na ordem, pelo ligamento supraespinhoso, ligamento intervertebral, e fi nalmente ao ligamento fl avo, que ao ser perfurado, emite uma crepitação indicando corretamente o espaço peridural (CASTRO, 2008).
O bloqueio peridural ocorre provavelmente por dois mecanismos:
primeiramente o anestésico se difunde através da dura-máter e atinge as raízes nervosas e a medula espinhal e, em segundo lugar, o anestésico se distribui através dos foramens intervertebrais. Este último processo de difusão ocorre mais lentamente, podendo levar de 15 a 30 minutos para evidenciar-se uma anestesia satisfatória (FUTEMA, 2009).
A técnica de puncionamento do espaço peridural é contraindicada em casos
de coagulopatias, sepse, dermatopatias presentes no local da punção, alterações congênitas que afetam a anatomia dos pacientes e alterações resultantes de traumatismos (CASTRO, 2008). CONCLUSÃO
Finalmente, é dever do profi ssional veterinário prover condições para que os
animais não sejam submetidos a procedimentos dolorosos sem a devida anestesia e analgesia. A fi nalidade da anestesia moderna é assegurar que os pacientes submetidos à cirurgia, despertem da anestesia com excelente controle da dor e manter este controle ao longo do período de convalescença. Administrar analgésicos antes de o paciente despertar da anestesia geral pode resultar em estado de conforto para o paciente no período pós-cirúrgico. Isto pode ser considerado analgesia preemptiva. REFERÊNCIAS
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Lyric sheets for All That Matters by Bryan Field McFarland Track # 1 ~ Open the Gift John Knox Center, Kingston, TN - 2005 We open our eyes that we may see / We open our ears that we may hearWe open our lips that we may sing your praiseYou give us the choice, the liberty / You give us the voice, the abilityTo open our eyes, open our ears, open our lips. We open our minds that we may lea
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