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REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 O naufrágio da fragata espanhola
Nuestra Señora de las Mercedes,
afundada pelos ingleses
ao largo do Cabo de Sta. Maria,
em 1804

Afundada em 1804 pela Marinha Inglesa ao largo da costa do Algarve, a fragata Nuestra Señora de las Mercedes transformou-se num mito dos caçadores de tesouros, Embora a sua carga dificilmente possa constituir um tesouro, a história do seu naufrágio e as histórias dos aventureiros que tentaram angariar fundos para encontrar e recuperar os seus restos constituem registos de interesse para a discussão das questões relacionadas com a arqueologia dos navios com tesouros (reais ou imaginários), a actividade dos caçadores de tesouros e a frágil condição do património arqueológico localizado na nossa Zona Económica Exclusiva, fora Sunk in 1804 by the British Navy off the coast of the Algarve, the fri- gate Nuestra Señora de las Mercedes has become a mith for treasure hunters in the Although her cargo can hardly be considered a treasure, the history of her loss and the stories of the adventurers who tried to gather funds to find and recu- perate her remains, make this case an interesting example for the discussion of the questions related to the archaeology of ships with treasure (real or imagi- nary), the activity of treasure hunters and the fragile condition of the underwa- ter cultural heritage of the waters of the Exclusive Economic Zone, outside the REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 1. Introdução
Nos primeiros meses de 1997, na sequência de uma declaração de achado fortuito dos res- tos de um casco ao largo do Cabo de Sta. Maria, sítio que foi convencionalmente designado FaroA e que a imprensa se apressou a mencionar como podendo corresponder aos restos da fragataespanhola Nuestra Señora de las Mercedes, afundada pelos ingleses em Outubro de 1804, tive a opor-tunidade de estudar a documentação existente no então Centro de Operações de ArqueologiaSubaquática (COAS), que foi o embrião do actual Centro Nacional de Arqueologia Náutica eSubaquática (CNANS/IPA).
Das várias horas de leitura que então me foram proporcionadas pela extensa documenta- ção consultada e de uma coincidência que cerca de um ano mais tarde haveria de nos levar aocontacto com o possível achador dos restos desta fragata, nasceram estas notas que não preten-dem ser exaustivas, mas que suponho que contribuirão para um melhor conhecimento públicodeste caso1.
2. O contexto político
Entre 1792 e 1815 a guerra dominou a história da Europa, só se interrompendo durante o breve período que separou o Tratado de Amiens, em 25 de Março de 1802, e o rompimento franco--inglês, ocorrido a 12 de Março de 1803. A Inglaterra, a França, a Áustria e a Rússia, em coliga-ções precárias e circunstanciais, confrontaram-se envolvendo Estados satélites e estendendo osconflitos ás colónias, dando um estatuto primordial à gerra económica2.
É assim num contexto de desconfianças e de interesses hegemónicos egoístas e belicístas que têm lugar os acontecimentos que levaram ao naufrágio da fragata Nuestra Señora de las Mer-cedes.
Qualquer que seja o ponto de vista por onde se encare o apresamento – e a destruição – de um navio mercante, em tempo de paz, não parece possível deixar de o considerar um acto de purapirataria. No entanto, o caso da armada de D. José de Bustamonte y Guerra foi discutido no par-lamento britânico e a conduta do governo aprovada por maiorias de três quartos, quer na Câmarados Comuns, quer na Câmara dos Lordes. O Sr. Pitt e Lord Hawkesburry defenderam calorosa-mente a conduta britânica. Na ala esquerda do parlamento, o Sr. Fox e Lord Grenville proferi-ram vigorosos discursos críticos3.
Na sua História da Europa, Allison transcreve parte de uma intervenção inflamada: “(.) pois que não há diferença entre a detenção de navios mercantes, que se podem devolver, e apresamentos noalto mar com uso de violência? A propriedade de um negociante pode ser devolvida, os marinheiros detidospodem ser libertados, mas se se queima e se manda a pique um navio com a sua tripulação, quem é que poderáressarcir o sangue inocente derramado? Os franceses acusaram-nos de ser um povo mercantil e disseram quea nossa sede de ouro era insaciável, atribuiram estas violências ao nosso avarento afã de dinheiro: mil vezesmelhor fora devolver esse dinheiro e dar dez vezes o seu valor em cima, e lavar esta nódoa que caíu sobre asnossas Armas.” Independentemente da retórica dos parlamentares ingleses, os factos são indesmentíveis.
Uma frota mercante espanhola foi interceptada pela marinha de guerra inglesa, um dos naviosafundado, os restantes três apresados e os todos valores confiscados pela coroa britânica. Tantoos bens que pertenciam à coroa espanhola como os que eram propriedade privada de mercado-res. Eis a história.
O naufrágio da fragata espanhola Nuestra Señora de las Mercedes, afundada pelos ingleses ao largo do Cabo de Sta.Maria, em 1804 3. A última viagem da Mercedes
Em Outubro de 1804, quando a armada de D. José de Bustamonte y Guerra se aproximava da costa do Algarve, a caminho de Cádis, a paz entre Espanha e Inglaterra era mais aparente doque efectiva.
Os compromissos assumidos pelos espanhóis para com os franceses, ainda que a contra- gosto nalguns casos, haviam colocado a Espanha na mira dos ingleses, a quem se impunha cadavez mais a evidência da guerra.
Para defender os seus interesses, a Inglaterra possuía três esquadras no mar: uma em Brest, sob as ordens do almirante Cornwallis, outra em Ferrol, sob as ordens do almirante Cochrane,e outra em Toulon, sob as ordens de Nelson. O seu poder era enorme e as tripulações conside-radas temíveis pela férrea disciplina a que estavam sujeitos e o treino intenso que possuíam.
Os marinheiros ingleses não tinham muito mais direitos do que os condenados às galés e eram, tal como estes, na sua maioria alistados à força, quer entre os normalmente designadospor súbditos de sua magestade, quer entre os cidadãos americanos que tinham o azar de ser apa-nhados pelos temíveis press gangs, muitos anos após a independência da América4.
Pouco antes, no fim do verão de 1804, Alexander Cochrane havia enviado para Inglaterra informações – aparentemente muito exageradas – sobre concentrações de tropas e armamentosnos portos de Ferrol, Cádis e Cartagena, mencionando mesmo uma hipotética chegada de tro-pas francesas, já em marcha na direcção de Ferrol.
Os ingleses interpelaram imediatamente o embaixador espanhol. Simultaneamente des- pacharam para Cádis uma armada de quatro navios, com ordens de interceptar a esquadra espa-nhola que havia largado de Montevideo, informando ao mesmo tempo Nelson, Cochrane e Corn-wallis que deviam mandar cada um duas fragatas para reforçar aquela unidade.
Os espanhóis explicaram prontamente que não existiam quaisquer movimentos anormais nos portos em questão, a não ser em Ferrol, onde se havia, de facto, armado um navio para trans-portar tropas para Bilbao.
Qualquer que tenha sido a credibilidade que estes argumentos colheram junto do governo inglês, a pequena armada de Graham Moore5 já havia partido com ordens expressas de apresaros navios espanhóis – que constava virem ricamente carregados – e apoderar-se do tesouro.
Embora os tempos de Drake e Hawkins já parecessem longe, velhos hábitos não se perdem com facilidade e, em tempo de guerra, mais valia os espanhóis terem razões de queixa da Ingla-terra que o contrário.
Sob o comando de D. José de Bustamonte, um oficial experiente que havia integrado a famosa expedição de Malaspina ao Alasca, as quatro fragatas haviam saído de Montevideo em 7de Agosto, com um carregamento considerado irresistível pela Inglaterra.
Na realidade, a história havia começado a 6 de Novembro de 1802, quando as fragatas Mercedes e Clara preparavam em Ferrol a largada para o Perú, a fim de trazerem na volta para Espanha os bensda Fazenda ali reunidos durante a Guerra. Quatro meses depois, a 27 de Fevereiro de 1803, estes doisnavios largaram efectivamente para o Cabo Horn com destino ao vice-reino do Perú e fragata Clarachegou a Callao a 21 de Junho, com 115 dias de navegação sem história. A Mercedes chegaria poucodepois, a 7 de Agosto, após uma paragem de cerca de um mês em Montevideo para reparações.
Entretanto, a 31 de Julho fora ordenado ao Vice-Rei do Perú6 que enviasse para Montevi- deo as fragatas Clara, Mercedes e Asunción com os bens a transportar para Espanha, sob as ordensde D. Tomás de Ugarte. Uma vez aí, dever-se-iam colocar sob o comando de D. José de Busta-monte y Guerra que as conduziria a Espanha com os navios que entendesse juntar-lhe.
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 A frota de D. Tomás largou de Callao a 31 de Março de 1804 e fundeou em Montevideo a 6 de Junho. Aí juntou-se a fragata Medea e substituiu-se a Asunción pela Fama, ficando esta pequenaarmada constituída por quatro fragatas.
Finalmente, a 7 de Agosto de 1804, precisamente um ano depois da sua chegada a Callao, a fragata Mercedes largava de Montevideo para Cádis, na companhia das fragatas Clara e Fama esob o comando D. José de Bustamonte, a bordo da fragata de 1084 toneladas Medea, substituindoD. Tomas de Ugarte que, impossibilitado de cumprir a sua missão por se encontrar gravementedoente, ficou em Montevideo.
No comando da Mercedes e segundo em comando na esquadra, seguia D. Diego de Alvear, um oficial que regressava a Espanha com a sua mulher, oito filhos, cinco escravos e toda a suafortuna, avaliada em 50.000 dólares, amealhada ao longo de 30 anos de vida nas colónias. Movendoa sua influência conseguiu ainda embarcar um sobrinho, um jovem oficial que fazia assim com-panhia ao tio na viagem de regresso ao reino.
Os elementos disponíveis sobre o poder de fogo de cada um destes navios divergem segundo os autores7. O manifesto lavrado no porto de Callao, a 7 de Agosto de 1803, à chegada de Espa-nha, refere a N.ª S.ª de las Mercedes como uma fragata de 38 canhões – dos quais 26 de 12 libras –com uma equipagem de 247 homens, dos quais 46 artilheiros e 19 tropas de artilharia.
Por outro lado, o historiador Marliani refere 44 bocas de fogo na Medea, o navio almirante, e 34 nas restantes três fragatas que compunham a força. Fernandez Duro e Lasso de la Vega indi-cam 42 bocas de fogo na Medea e 34 nas restantes fragatas. Esther Liebermann estima o arma-mento em 42 bocas de fogo de 18 libras na Medea e 36 de 12 libras na Clara, Fama e Mercedes. Final-mente John S. Potter, autor de uma obra clássica da caça aos tesouros, menciona 40 bocas defogo, de calibres 18, 8 e 6 libras, para a Medea e 34 bocas de fogo de 12, 8 e 6 libras, para as res-tantes fragatas. São estes os números indicados por William James, embora não faça qualquermenção aos calibres.
Fossem 34, 36 ou 38 canhões, o facto é que nem a Mercedes nem nenhuma das outras três fragatas, estavam preparadas para resistir a uma referega com quatro navios de guerra inglesesarmados de morteiros, caronadas e canhões de 24 libras e, sobretudo, com tripulações treinadase sujeitas a uma disciplina desumana, sob o comando de oficiais competentes e preparados.
4. O naufrágio
Segundo os espanhóis o dia 5 de Outubro de 1804 amanheceu claro sendo visível no hori- zonte a Serra de Monchique, sete léguas a NNE. Não há consenso sobre a direcção exacta dovento, referindo todos os relatos soprava do quadrante norte. De qualquer forma as fragatasespanholas aproximavam-se de terra com rumo NE8.
Cerca das seis e meia da manhã, do lado de terra, avistaram a barlavento quatro navios que se dirigiam na sua direcção, navegando ao largo em boa velocidade.
Às sete e três quartos compreenderam que se tratava de navios de guerra ingleses. Embora nos dias anteriores tivessem obtido informações de outros navios com que se cruzaram que indi-cavam haver paz entre a Espanha e a Inglaterra, o D. José de Bustamonte mandou formar emlinha de combate sobre a amura de bombordo a Fama à frente.
A armada de Graham Moore era composta pela Indefatigable, a Medusa, sob o comando do Cap. Gore, a Amphion, sob o comando do Cap. Sutton e a Lively, sob o comando do Cap. Ham-mond, todas poderosamente armadas.
O naufrágio da fragata espanhola Nuestra Señora de las Mercedes, afundada pelos ingleses ao largo do Cabo de Sta.Maria, em 1804 Também não há consenso sobre o poder de fogo inglês. Potter refere que a Indefatigable, o navio de Graham Moore, ostentava 26 peças de 24 libras, 16 caronadas de 42 polegadas e 12 mor-teiros de 12 polegadas e armamento semelhante nas outras fragatas inglesas. Esther Liebermancorrobora o número de 44 bocas de fogo da Indefatigable mas indica 32 para as outras fragatas.
Os autores espanhóis falam de 52 canhões na Indefatigable, 46 na Lively e 40 na Medusa e na Amphion.
Era portanto uma armada muito mais poderosa do que a espanhola que, pouco antes das nove da manhã, formava em linha de batalha, a barlavento dos espanhóis, a menos de um tiro de canhão.
Às nove e um quarto os oito navios encontravam-se atravessados ao vento, em duas linhas paralelas. Do lado inglês, com as fragatas espanholas pelo costado de sotavento, a Medusa, a Inde-fatigable, a Amphion e a Lively. Do lado espanhol a Fama, a Medea, a Mercedes e a Clara só com asvelas das gáveas.
Passou-se tudo muito depressa. A Indefatigable arriou um bote que se deslocou com um ofi- cial a bordo da Medea. D. José mandou vir D. Diego de Alvear a bordo da Medea, uma vez que estefalava inglês. Este fez-se acompanhar do seu filho varão – tinha mais sete filhos – deixando oresto da família e um jovem sobrinho, oficial de marinha a quem D. Diego havia conseguidoembarcar nesta sua viagem de regresso, a bordo da Mercedes.
Cinco minutos depois a Indefatigable disparava um tiro de canhão que passou entre Clara e a Mercedes. Aos 15 minutos disparou outro tiro, sem bala, chamando o seu oficial a bordo.
As conversações haviam sido curtas. O oficial inglês informou que tinha ordens de condu- zir a frota espanhola para Inglaterra, sob escolta. D. José de Bustamonte protestou que a Espa-nha não estava em guerra com a Inglaterra e que, de qualquer forma, tinha ordens para seguirpara Cádis. Perante a insistência e as ameaças do inglês, D. José de Bustamonte y Guerra encer-rou as conversações informando-o que, se deviam seguir para Inglaterra, teria de ser pela força.
Era evidente que, apesar da incomparável superioridade dos navios de guerra ingleses em face dos navios mercantes espanhóis, nenhum oficial aceitaria alguma vez render-se sem resistêncianuma situação em que uma esquadra de quatro navios ameaçava uma esquadra de quatro navios.
Entertanto, ao mesmo tempo que decorriam as conversações entre ingleses e espanhós, um inci- dente de pouca importância pode ter determinado a sorte da Mercedes. Enquanto o bote inglês atra-cava à Medea, a Mercedes, que estava à sua popa, avançou e vendo que lhe ia tocar com o gurupés no cas-telo da popa, arribou um pouco da linha, descaíndo para sotavento. Temendo uma tentativa de fuga,a fragata inglesa que estava alinhada pelo seu costado de bombordo na linha de batalha, a Amphion,fez o mesmo, passou pela popa da linha inimiga e colocou-se-lhe do lado de estibordo, obrigando-a avoltar à linha, mas a barlavento desta, ou seja, metida na linha inglesa, com a Amphion a estibordo.
Logo que o oficial inglês pôs os pés no convés da Indefatigable esta abriu fogo, dando início às hostilidades. As linhas de batalha já se haviam desfeito. Os espanhóis ripostaram com umadescarga da sua artilharia, provocando poucos danos nas fragatas inglesas.
Poucos minutos depois da primeira descarga dos espanhóis ouviu-se uma fortíssima explo- são. A Mercedes havia rebentado e tudo o que dela restava era uma parte da proa despedaçada,que flutuava ainda com algumas dezenas de homens agarrados.
D. Diego de Alvear, no convês da Medea, assitiu horrorizado ao desaparecimento de toda a A violência da explosão causou feridos a bordo da Amphion, colocada a menos de um tiro de pis- tola. Parte de uma das bocas de fogo da tolda da Mercedes foi encontrada pendurada nas suas enxárcias.
Com esta explosão a batalha havia sido decidida sem margem para dúvidas. Os mais de duzentos mortos da Mercedes lavavam bem a honra espanhola e a Clara, primeiro e a Medea, poucoapós, arriaram as suas bandeiras.
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 A bordo da Fama, constatando-se que a sua artilharia não produzia qualquer efeito na Medusa, a fragata inglesa que lhes batia, tentou-se a fuga. Apesar dos rombos no casco, dos caboscortados, das velas rasgadas e das pesadas baixas, a Fama logrou afastar-se em direcção a Cádis.
Os ingleses enviaram a Medusae a Livelyno seu encalço. Cerca das onze horas da manhã encontrava- -se ao alcance do fogo da Lively e hora e meia depois, sem hipóteses de escapar, rendia-se finalmente.
5. Missão cumprida
Os ingleses procederam às reparações consideradas imprescindíveis nas fragatas espanho- las, recolheram os 52 homens que se agarravam ainda aos destroços da proa da Mercedes, únicossobreviventes das 315 pessoas9 que se encontravam a bordo na altura da explosão, e seguiramem combóio para Inglaterra.
A 18 de Outubro a notícia chegou a Londres. O ministro do rei Carlos IV na corte inglesa, D. José de Anduaga, dirigiu-se ao Ministro de Estado, Lord Harrowby, que não o recebeu. Perantea sua veemente insistência, conseguiu ser recebido pelo Subsecretário, Sr. Hammond, que o infor-mou que as ordens de apresar os navios espanhóis eram consequência dos armamentos que nelesseguiam a bordo, segundo as informações que possuía o governo inglês.
No dia 19 foi finalmente recebido pelo Ministro e este comunicou-lhe que o simples facto de a Espanha ter armado navios, depois de saber que a Inglaterra consideraria este facto comoum acto hostil, autorizava o seu país a apresar os navios espanhóis que entendesse.
De facto, a 18 de Fevereiro daquele ano, a Espanha havia sido avisada pelos ingleses das suas intenções de apresar todos os navios de guerra espanhóis que transportassem dinheiro.
Contudo, sobre o estatuto dos navios apresados, D. José foi informado que estes eram só con- siderados detidos até que o governo espanhol fornecesse as “explicações” pedidas sobre os arma-mentos que os seus navios traziam, as relações da Espanha com a França e as suas intenções futu-ras com respeito à guerra entre a França e a Inglaterra, designadamente no que respeitava às somasexorbitantes que alegadamente estavam sendo conduzidas de Espanha para França, ou seja, até queos espanhóis respondessem ao ultimatum eufemisticamente designado por “pedido de explicações”.
Os espanhóis, apertados entre a França e a Inglaterra, com uma capacidade negocial muito reduzida, haviam já explicado a questão das armas e negado a alegada magnitude dos emprésti-mos à França. De qualquer forma, em consequência deste caso, a Espanha não respondeu ao ulti-matum e, menos de dois meses depois, a 12 de Dezembro, declarou guerra à Inglaterra. Esta respondeu com uma declaração de guerra formal no mês seguinte, a 11 de Janeiro de 1805. A guerra só terminaria 3 anos depois, em 4 de Julho de 1808.
Quanto aos sobreviventes, consta que os nobres e os oficiais receberam um tratamento decente. Perante a tragédia pessoal de D. Diego de Alvear, a quem a Inglaterra havia assassinadoas sete filhas, a mulher, um sobrinho e cinco escravos negros, e enviado a pique toda a fortuna,o rei Jorge III adiantou uma indemenização de seis mil libras e prometeu pagar o equivalente àfortuna perdida, que D. Diego estimava em 12 mil libras (50.000 dólares), logo que chegassemos comprovativos da alfândega de Montevideo.
O governo inglês devolveu aos oficiais e tripulações sobreviventes das fragatas apresadas as suas caixas de soldadas. Quanto aos sobreviventes da Mercedes, a perda dos soldos (estimada numtotal de 60 000 pesos fortes) foi considerada como um azar de combate. O seu valor era de 143 070 pesos fortes para a tripulação da Medea, 32 909 e 63 663 para as da Fama e da Clara. Para a Mercedes, não restituídos, seriam 60 000 pesos fortes.
O naufrágio da fragata espanhola Nuestra Señora de las Mercedes, afundada pelos ingleses ao largo do Cabo de Sta.Maria, em 1804 Muito mais tarde, a 12 de Março de 1823, em vésperas de uma esperada invasão francesa da Espanha, a Inglaterra obteve um convénio sobre as indemnizações de guerra entre as duascoroas, onde se estipulava que as duas nações só eram obrigadas a indemnizar os proprietáriossúbditos das duas nações por detenções de propriedades em navios apresados entre o dia da assi-natura da paz, 8 de Janeiro de 1808, e a data da assinatura do convénio.
6. O tesouro da Mercedes
Com este convénio as vítimas da esquadra espanhola nunca mais seriam indemnizadas pelas perdas. Não se sabe exactamente qual foi o valor da fortuna apreendida pela coroa inglesa, nemque tesouro foi engolido com a Mercedes.
Aliás, as imprecisões começaram logo que se soube da tragédia. No dia 19 de Outubro a gazeta de Londres mencionava uma carga de 140.000 pesos numa das fragatas apresadas,de 90 000 numa outra e dizia que a terceira vinha carregada só com dinheiro.
O historiador Manuel Marliani transcreve as listas oficiais. O total da carga declarada era Ou seja, 4 736 153 pesos e uma pequena fortuna em mercadorias. Peles e óleo de foca, lã de vicunha, madeira, cobre, estanho e produtos vegetais para fins industriais e farmacológicos.
A lã de vicunha era especialmente preciosa. Das quatro espécies de camelídeos dos andes – lha- mas, vicunhas, alpacas e guanacos – as vicunhas eram já objecto de protecção no tempo dos Incas,em virtude da sua raridade. Vivendo sobretudo acima dos 3000 metros de altura, a caça era a únicamaneira de obter a sua lã. No século XIX foi tentada a sua domesticação, sem muito êxito ainda hoje.
Quanto aos produtos vegetais acima referidos, a cascarilha (Lat. Cortex febrilis), também conhecida por Quina ou Quinaquina, era de facto a casca duma árvore conhecida por Quarangoque se utilizava na medicina, por exemplo para fazer quinino. Quanto à ratânia, (Lat. KraumeriaTriandra, Ruiz et Pavon), era uma planta sobretudo utilizada na indústria dos cortumes.
A maioria dos autores considera que se perdeu cerca de 1/4 do total desta carga no naufrá- gio da Mercedes, ao tempo o equivalente a 330 milhões de libras esterlinas, ou seja, pouco maisde um milhão de pesos.
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 A fama desta fortuna, feita na realidade sobretudo de materiais orgânicos e de metais não preciosos, foi posteriormente passando de boca em boca, aumentando progressivamente o seuvalor até se transformar num tesouro cuja magnitude chegou a ser estimada nos nossos dias porum jornalista em 30 milhões de contos10. Esta soma fez sonhar um número incontável de ingé-nuos durante os últimos 50 anos, juntando-se à longa lista dos tesouros imaginários, onde sesitua a carga do navio de Afonso de Albuquerque Frol de la Mar, os tesouros da Baía de Vigo, jácitados nas Vinte Mil Léguas Submarinas de Jules Verne e o do navio inglês Grosvenor, naufragadoem 1782 nas costas da África do Sul.
7. “A sucker is born every minute”
Sempre houve pessoas crédulas e pessoas prontas a aproveitar-se da credibilidade alheia. A expressão “conto do vigário” deve ter existido sob diversas designações, muito antes existiremvigários, desde a noite dos tempos. A história da segunda metade do século XX está recheada demilionários do Texas que compraram sucessivamente a estátua do Almirante Nelson, em Tra-falgar Square (com os leões e tudo), ou a Torre Eiffel, arrendaram a Casa Branca, reservaramtalhões na Lua e despenderam somas prodigiosas em expedições demenciais à procura do ourodos Incas.
Esta propensão para desbaratar as poupanças privadas em projectos optimistas encontrou uma expressão vigorosa nos autodenominados caçadores de tesouros subaquáticos, cuja divisaé, em todo o mundo, “a sucker is born every minute”, ou seja, “em cada minuto nasce um palerma”.
O tesouro do navio Grosvenor referido acima é um exemplo paradigmático. Apesar de nunca ter existido, sua recuperação foi proposta em 1964, por um belga de nome Guido de Backer, deuma forma que inflamou o país.
O seu projecto era construir um túnel sob o mar, até ao local do naufrágio para evitar a vio- lenta ondulação!. De qualquer forma, esta ideia peregrina permitiu-lhe angariar fundos nummontante não negligenciável.
Infelizmente, uma alegada propensão para tomar banho em bebidas alcoólicas haveria de deitar a perder este projecto visionário. O Sr. de Backer foi julgado por fraude e no seu processoconsta que terá lavado as meias com champanhe numa viagem de angariação de fundos à Europa,bebida com a qual aliás foi ainda acusado de ter tomado banhos, bem como em vinho e em cer-veja11.
8. Em busca da Mercedes
Desde os anos sessenta que o tesouro perdido da Nuestra Señora de las Mercedes consta abun- dantemente na bibliografia dos tesouros perdidos. O escritor John S. Potter, no seu clássico TheTreasure Diver’s Guide, refere este tesouro como valendo cerca de um milhão de dolares em ouroe prata.
A profundidade e a indefinição da zona do naufrágio mantiveram contudo os sonhadores à distância. Potter referia cerca de trezentos metros de profundidade, a várias milhas da costa. Com efeito, os oficiais ingleses estimaram a posição da batalha entre oito e dez léguas a SW do Cabo de Sta. Maria. O Comandante da fragata Amphion marca a 5 de Outubro, pouco após abatalha, a posição 36º26’N e 7º40’O, oito ou nove léguas a sul do Cabo de Sta. Maria. O Coman- O naufrágio da fragata espanhola Nuestra Señora de las Mercedes, afundada pelos ingleses ao largo do Cabo de Sta.Maria, em 1804 dante da Indefatigable refere a latitude 36º20’N, não indicando a longitude mas estimando aposição do Cabo de Sta. Maria dez léguas a NE. Quanto às fragatas Medusa e Lively, ocupadasdando caça à Fama, não tiveram por certo disponibilidade para verificar as suas posições, nãoconstando estas nos diários dos respectivos Comandantes.
Finalmente, em Agosto de 1982, um grupo de investigadores decidiu-se a encontrar este “fabuloso” tesouro, e solicitou à Capitania do Porto de Faro uma autorização para prospec-tar uma determinada área a sudoeste de Faro, inexplicavelmente próximo da costa.
Ao mesmo tempo solicitavam a uma entidade pública um empréstimo de 25 mil con- tos, que se propunham pagar logo que o navio fosse encontrado e o Estado lhes retribuísseos 50% do valor da carga a que tinham direito por lei.
A Capitania de Faro atribuíu a esta equipa uma autorização de prospeção por 90 dias e, mais tarde, em Outubro, uma segunda autorização para prospecções numa nova área, tam-bém ela inexplicavelmente próxima de terra, apesar das repetidas referências à qualidade cien-tífica da equipa e a uma aturada investigação efectuada em arquivos de vários países12.
Esta segunda autorização foi suspensa em Novembro daquele ano, num clima de alguma polémica, e os investigadores em questão deixaram o Algarve sob o fogo da imprensa que, seantes acusava “as autoridades” de descurarem um projecto cujos proveitos não se deveriamignorar, sobretudo considerando a crise económica que então se vivia, agora acusavam osachadores de não terem pago o aluguer da embarcação utilizada nas prospecções13.
Apesar de tudo, esta equipa acabaria por declarar oficialmente um achado dentro da A operação de confirmação do achado – que excluíu incompreensivelmente quer os acha- dores, quer os especialistas em arqueologia subaquática do Museu Nacional de Arqueologia— foi levada a cabo pelos mergulhadores da Armada que, apesar da sua experiência compro-vada em águas com muito pior visibilidade e no rastreio de alvos muito mais pequenos, nãoconseguiram vislumbrar no local indicado, nem os vestígios da fragata, nem outros quais-quer.
Os achadores afirmaram à imprensa que os resultados desta operação eram de esperar14, já que a Marinha Portuguesa não possuía o “equipamento adequado”. Esta afirmação é tantomais estranha quanto os alegados achadores não possuíam eles próprios outro método deprospecção mais sofisticado do que a rocegagem15.
Talvez por isso não tenham detectado na primeira área onde prospectaram, entre Agosto e Outubro de 1982, um conhecido pesqueiro onde em Dezembro de 1996 foram encontra-dos os restos de um casco — o já atrás referido Faro A — jazendo ao longo de vinte e quatrometros, elevando-se quase dois metros do fundo, e ostentando um número ainda não deter-minado de canhões de ferro que se encontarvam aliás espalhados por uma área considerável.
Os dois mergulhadores que declararam este achado descobriram o casco durante uma imersão em que pretendiam fotografar a fauna. Este achado seria imediatamente identifi-cado por jornalistas e curiosos como sendo o da fragata Mercedes. O seu tesouro foi desta vezquase unanimemente avaliado em cerca de 20 milhões de contos16.
Voltando à história. Em 1986 duas empresas inglesas — a SubSea Offshore, Ltd. e a Dive- task Salvage, Ltd. — requerem autorizações para resgatar este tesouro. Seriam ambas indefe-ridas.
Em 1993, uma terceira empresa — New Era, Ltd.17 — avança com outro pedido, desta vez no quadro da legislação favorável à actividade dos caçadores de tesouros. Esta legislação seriacontudo congelada em 1995 e revogada em 1997, antes da concessão chegar a ser atribuída.
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 9. Ainda os ingleses?
Além dos vendedores de sonhos como o Sr. de Backer — autodenominados caçadores de tesou- ros ou empresários/cientistas, em função do público a que se dirigem — existe um segundo grupo deinvestigadores, desta feita mais discretos, financiados por investidores esclarecidos, conhecedores dosriscos inerentes à indústria dos salvados e que se dedica a resgatar, de facto, valores do fundo do mar.
Um dos mais célebres e certamente um dos mais bem sucedidos, Robert Sténuit18, declarou em privado que a prata e o ouro a bordo da Mercedes deveriam estar de tal forma espalhados —em virtude da explosão — e tão cobertos de sedimentos que dificilmente proporcionariam lucrosa quem se aventurasse na sua recuperação.
Contudo, em Março de 1997, um oficial de Marinha — membro da associação Arqueonáu- tica, fotógrafo subaquático e participante em acções de arqueologia já no tempo do Museu Nacio-nal de Arqueologia e mais tarde a em colaboração com o COAS e o CNANS — de regresso de umamissão no Algarve, contou-nos que havia sido informado que um camarada seu, de serviço numnavio da Marinha, havia interceptado um navio norueguês, que o informou estar à procura dafragata N.ª S.ª de las Mercedes. Este incidente, fora das águas territoriais, foi tomado pelo oficialde serviço como mais outra aventura de lunáticos, pelo que aquele se limitou a pedir ao Coman-dante que abandonasse o local.
Mais tarde, nos primeiros meses de 1998, durante uma visita do investigador de arquivos Patrick Lizé ao CNANS, fomos informados de que um conhecido seu, de nome John Kingsford,havia descoberto os restos da fragata Mercedes a cerca de 100 Km da costa do Algarve e a 1.200 mde profundidade, espalhados ao longo de 2 Km.
De acordo com a informação de Patrick Lizé este sítio havia sido descoberto há 5 anos, estando amplamente registado e filmado e havendo inclusivamente notícia de se terem recupe-rado alguns objectos para verificação da identidade do naufrágio. Um incidente com a MarinhaPortuguesa – que havia instado o Comandante do seu navio a abandonar o local, apesar destesítio ser fora das águas territoriais portugesas, havia interrompido a última campanha.
Constatada esta coincidência e depois de contactado telefonicamente por Patrick Lizé e pelo CNANS, o Sr. John Kingsford informou este Centro de que não havia produzido quaisquer danosnaquele tumulus, tendo contudo intenção de recuperar alguns bens cujo valor venal o justificava.
Por esta razão não podia ainda fornecer qualquer informação científicamente aproveitável, devendoaliás consultar os seus advogados antes de iniciar quaisquer contactos com o CNANS.
Mais tarde, em Fevereiro de 1998, John Kingsford informou telefonicamente o CNANS de que pretendia contactar oficialmente esta instituição para avaliar a possibilidadae de realizar pro-jectos em conjunto, designadamente num navio português naufragado nas costas do actual Iémen,cuja expedição tinha em preparação com Henri Delauze. Contactada a Marinha, o CNANS foi imediatamente informado que, de facto, em Setem- bro de 1996, a Corveta da Marinha Portuguesa António Enes interceptou, ao largo do Cabo de Sta.
Maria, um navio oceanográfico norueguês, o Geograph, que informou estar à procura de um porta--aviões inglês, ali naufragado durante a Segunda Guerra Mundial! Por uma ironia do destino, a carga da Mercedes parece estar mais uma vez à mercê de um inglês. As suas intenções expressas são as melhores. Mas o futuro da fragata Nuestra Señora de lasMercedes não parece sorrir. Todos nos lembramos bem das intenções expressas pela equipa queencontrou o Titanic e todos sabemos dos actos de vandalismo perpetrados por empreendedoressem escrúpulos, logo que a localização foi tornada pública.
Eis uma história que certamente não acaba aqui.
O naufrágio da fragata espanhola Nuestra Señora de las Mercedes, afundada pelos ingleses ao largo do Cabo de Sta.Maria, em 1804 “Artilleria, Municiones, Artifícios de fuego, Armas blancas y de chispa
Saquillos de metralha de á 24 460 Aproveito para agradecer a colaboração do Dr. Patrick Lizé, investigador que me facultou um interessante conjunto de documentos sobre este assunto e a da Dra. Dolores Higueras, do Museo Naval de Madrid, que me forneceu pronta e simpaticamente todas as cotas bibliográficas de que necessitei.
Dreyfus, F.-G. ; Marx, R. ; Poidevin, Raymond - História Geral da Europa, Mem Martins : Europa-América, 1980, Vol. 3, p. 149-159.
William Pitt, the Younger (1759-1806) aparece depois de 1784 como o Marliani (1850, p. 168) refere 44 bocas de fogo na Medea, o navio almirante, organizador do Partido Tory, que representava os interesses da aristocracia e 34 em cada uma das restantes 3 fragatas que compunham a força. Quanto rural, das classes mercantis e da alta administração pública. O seu opositor aos calibres, Miguel de Zapiain, o comandante da fragata Fama, refere na sua era o Partido Whig, sob a liderança de Charles James Fox (1749-1806), que “Relacion de lo acaecido á las cuatro fragatas de guerra españolas, nombradas Medea, representava a poderosa classe industrial, os dissidentes religiosos e os Fama, Mercedes y Clara, al mando de D. José de Bustamonte y Guerra, jefe de esquadra reformistas que aspiravam a uma reforma profunda do sistema eleitoral, de la Real Armada, en su encuentro sobre el cabo de Santa Maria con las fragatas de parlamentar e seguiam as ideias filantrópicas imanadas da Europa, sobre o guerra inglesas, la Indefatigable, Amphion, Medusa y Libely”, (Marliani, 1850, colonialismo, a escravatura, etc. Mas o Partido Tory representava sobretudo p. 146-150) datada de 8 de Novembro de 1804, em Gosport, ainda sob os então designados por King’s Friends, de onde George III escolhia os seus detenção: “Esta fragata es de treinta y cuatro cañones del calibre de á 12 y 16. Las governos e Pitt foi duas vezes 1.º Ministro durante este reinado, entre 1783 e inglesas, el Lively y la Medusa, llevan veinte y ocho cañones de á 18, diez e seis 1801 e entre 1804 e 1806. Fox, um brilhante orador, foi por sua vez também caronadas de á 36, y cuatro cañones de á 9 cada uno. ” duas vezes membro do governo britânico. Robert Banks Jenkinson Fernández Duro (1895-1903, VIII, p. 265) indica 34 canhões, com um calibre Hawksburry (1770-1828) - 2nd Earl of Liverpool, Tory, foi um apoiante máximo de 12 libras em bateria: “ (.) componiendo esquadra las cuatro fragatas incondicional de Pitt durante o seu segundo mandato cujo gabinete, apesar Medea, Fama, Mercedes y Clara, la primera de 40 cañones, del calibre 18 los de bateria, da guerra, não integrava os Whigs. Foi Primeiro Ministro entre 1812 e 1827.
y ocho y seis los del alcazar y castillo; las otras tres de 34 cañones, con maximo calibre de Robert Banks Jenkinson Hawksburry (1770-1828) - 2nd Earl of Liverpool, foi á 12 en bateria, como todas las de su classe en la Armada española”. um apoiante Tory, incondicional de Pitt durante o seu segundo mandato Esther Liebermann (1992, p. 4) estima o armamento em 42 bocas de fogo cujo gabinete, apesar da guerra, não integrava os Whigs. Foi 1.º Ministro de 18 libras na Medea e 36 de 12 libras na Clara, Fama e Mercedes. entre 1812 e 1827. Por sua vez, William Wyndham Grenville (1759-1834), John S. Potter (1988, p. 351-353), o clássico dos caçadores de tesouros, não apesar de ser primo chegado de William Pitt e membro do governo no seu indicando quaisquer fontes, menciona 40 bocas de fogo, de calibres 18, 8 e 6 primeiro mandato, era no entanto apoiante das teses do partido Whig, libras, para a Medea e 34 bocas de fogo de calibres 12, 8 e 6 libras, para as alinhando com Fox nas teses liberais e humanistas do século que nascia. Os termos Tory e Whig entraram no Parlamento Britânico no final do século XVII, associados a conceitos e grupos de pressão diferentes. Tory, uma A Naval Chronicle, na National Maritime Museum Library de Greenwich, refere, palavra irlandesa que designava mais ou menos “papista fora-da-lei”, era nos extractos de Outubro de 1804, o seguinte: “(.) capture of four Spanish associada aos defensores dos direitos hereditários de James II, apesar da sua Frigates, Fame 44 guns, Mercedes 34 guns, Medea 34 guns, Clara 34 guns.” e, mais fé católica. Whig era um termos galês que queria dizer “ladrão de cavalos” e adiante, “(.) Mercedes, Captain Don Josef Goycoa, 34 guns, 12 pounders and 300 mais tarde se aplicou aos presbiterianos escoceses. Encyclopaedia Britannica, men.” . Constata-se que a Fama é mencionada como tendo 44 canhões, certamente por ter sido capaz de sustentar o fogo das duas poderosíssimas fragatas inglesas Lively e Medusa, que lhe deram caça e só a conseguiram No Outono de 1811 havia mais de 6.000 registos de rapto e sequestro de capturar cerca de 5 horas depois do início do combate. Esta fonte refere ainda cidadãos americanos pela marinha inglesa. A própria Inglaterra reconhecia um último pormenor interessante para este estudo: “When the Mercedes blew 3.300, justificando-se com a frase “uma vez inglês, sempre inglês” e up, part of one of the quarterdeck guns was found sticking in the rigging of the Amphion, argumentando que as vítimas dos press gangs (as equipas que raptavam todos os jovens válidos e os incorporavam nos 150.000 quadros então imprescindíveis à manutenção do império colonial inglês) haviam nascido No diário de bordo de um dos tenentes da fragata Lively (informação do antes da independência. Um caso paradigmático deste pesadelo é célebre e diz Maritime Information Centre do Museu Marítimo de Greenwich), as entradas de respeito aos quatro cidadãos americanos, William Wane, Daniel Martin, John 5 e 6 de Outubro de 1804 referem, relativamente à fragata Fama, o seguinte: Strachen e Jenkin Ratford, incorporados à força na marinha inglesa, evadidos “Lost sight of the Indefatigable & Amphion. Found the Prize to be the Spanish Frigate e recapturados em 1807: Jenkin Ratford foi imediatamente enforcado na Fama of 34 guns and 300 men (.)”. verga do traquete da fragata H.M.S.Halifax; os restantes homens foram James Henderson (1970, p. 122) refere: “(.) they sighted the expected squadron, condenados a 500 chicotadas cvada um, pena à qual não se sobrevivia. A wich consisted of the 40-gun frigate Medea, with Rear-Admiral Don Joseph Bustamente, intervenção enérgica do Presidente Jefferson salvou-os da execução da pena, and the 34-gun frigates Fama, Clara, and Mercedes.” mas William Wane já havia morrido quando chegou a ordem de libertação William James (1847, p. 280) refere os mesmos números: 40 peças na Medea, Sir Graham Moore (1764-1843) havia de ficar também ligado à História de Na biografia de Graham Moore por Sir Robert Gardiner (1844, p. 32) a Medea Portugal, pouco depois, em Novembro de 1807, quando foi nomeado para é dada como possuindo 42 canhões e as restantes fragatas 32.
escoltar a família real portuguesa entre Portugal e o Brasil, no navio de 74 Quadro resumo do armamento da fragata Nª. Sª. de las Mercedes,
segundo os autores e fontes consultados
A Espanha tinha quatro Vice-Reinados na América: México, Perú, Nova Granada e El Prata e quatro Capitanias Gerais: Cuba, Guatemala, Venezuela e Autor ou fonte
Nº total de bocas de fogo
24 Lbs.
16 Lbs.
12 Lbs.
4 Lbs.
Os elementos disponíveis sobre o poder de fogo da fragata Mercedes divergem aliás pouco, segundo os autores. Assim, o manifesto lavrado em Callao um ano antes da tragédia, a 7 de Agosto de 1803, à chegada de Espanha, refere que a fragata de 38 canhões Nsa. Sra. de las Mercedes entrava com 26 peças de 12 libras, 6 de 4 libras, 8 obuses(?) de 24 libras e 6 esmeris (A fotocópia do manucrito a que tivemos acesso — sem indicação da cota bibliográfica e ilegível em alguns pontos — menciona uma equipagem de 247 homens, entre os quais 46 artilheiros e 19 tropas de artilharia): REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia . volume 1. número 2. 1998 Há inúmeras descrições da batalha e do naufrágio, todas baseadas mais num quadro de crise económica, resultante da recessão que se seguiu ao ou menos nas mesmas fontes, isto é, nos diários de bordo dos oficiais chamado segundo choque petrolífero. A segunda, num período de transição envolvidos e na biografia de D. Diego de Alvear (1891). A mais completa e de reorganização da Arqueologia, quando estavam em preparação os e pormenorizada parece ser a de William James (1847, p. 280-291 diplomas que criaram o Instituto Português de Arqueologia (e o Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática no quadro deste Instituto) e que revogaram a chamada “lei da caça aos tesouros” – o D.-L. 298/93 de 21 Os autores consultados divergem também quanto ao número de tripulantes.
de Agosto – já congelada nessa altura. Sem um quadro legal que permitisse A fonte provavelmente mais rigorosa, D. Diego de Alvear (Alvear, 1891, p.
responder com eficácia a esta solicitação e com o Centro de Operações de 131), refere 315 pessoas, tendo morrido 263 na explosão (entre as quais a sua Arqueologia Subaquática da EXPO’98 – COAS, um organismo embrionário mulher, quatro filhas, três filhos e um seu sobrinho) e sendo salvas 52 após o do que viria a ser o CNANS – já operacional, mas dependendo ainda combate. Esther Liebermann (1992, p. 4) refere 280 pessoas, tal como outros institucionalmente do IPPAR e sujeito à burocracia e falta de flexibilidade autores (James, 1847, p. 350-352), enquanto um segundo grupo indica 299 que caracterizavam aquela Instituição, a resposta do Estado tardou vários (Fernández Duro, 1895-1903, :267), (Vega, 1856-1863, p. 249-542). O meses e a imprensa faz eco disso. Existe contudo um denominador comum “Bulletin politique et général de l’Europe” de 1 de Novembro de 1804, indica nestes dois casos (que não são os únicos, infelizmente): a aceitação sem reservas da existência de um tesouro fabuloso e a sua quantificação 10 Luis Pedro Cabral, Uma Questão de Faro, in O Independente de 14 de Março de inexplicavel e absolutamente acrítica pelos jornalistas. A 20 de Fevereiro de 1997 o Público refere 20 milhões de contos, reproduzindo uma página de um livro dos arquivos da Alfândega de Lima que indica a carga de 12.000 pesos 12 Mais tarde, depois de declararem um achado nesta segunda área, que aliás de prata… O Jornal do Algarve corrobora esta verba a 6 de Março e O nunca se conseguiu confirmar, um dos membros desta equipa declarou à Independente, no dia 14, aponta o valor do espólio perdido na Mercedes para os imprensa – Diário de Notícias de 17 de Novembro de 1985 – que esta 30 milhões de contos. O Diário de Notícias de 7 de Maio refere riquezas descoberta era o resultado de 7 anos de trabalho, nos quais haviam sido avaliadas em 20 milhões de contos e o Jornal do Algarve corrobora mais uma consultados cerca de 30 mil documentos.
vez esta verba a 29 de Maio. Tal como no início dos anos oitenta, não há um único jornalista que ponha em causa estes números e tente confirmar junto 13 Ver Diário de Lisboa de 1 de Setembro de 1983 e Dia de 2 de Setembro de 1983.
de especialistas as opiniões divulgadas.
14 Ver Expresso de 16 de Junho de 1984 e ao jornal Diário de Notícias de 17 de 17 Esta empresa contava com a participação de Robert Cembrola, já conhecido das autoridades portuguesas por integrar uma outra empresa, a Nautical 15 A rocegagem consiste basicamente em arrastar um cabo com grampos na Heritage Foundation, que pedira nos anos oitenta uma concessão para explorar ponta pelo fundo do mar e esperar que o acaso coloque um naufrágio na os tesouros perdidos entre o Cabo da Roca e o Cabo Espichel, até uma profundidade de 50 m. Esta concessão foi sensatamente negada pelas É aliás interessante comparar o tratamento que esta “segunda descoberta” da Mercedes teve na comunicação social com o que foi dado à “primeira”.
18 Robert Sténuit recuperou um importante conjunto de objectos pertencentes Uma breve leitura dos recortes de imprensa sobre este assunto revela-nos a ao navio holandês Slot ter Hooge na Ilha do Porto Santo, nos anos de 1974 e parte da história tornada pública pelos media nos dois casos e nos dois 75, maioritariamente constituído por barras de prata pesando cerca de 1,400 contextos em que eles ocorreram. A primeira, no início da década de oitenta, Kgf e ganhou em seguida o processo contra o Estado Português sobre os a poucos anos do fim de uma ditadura que primara pela estupidez e pelo direitos de posse do espólio deste navio, vendendo mais tarde a quase obscurantismo, num contexto de desorganização política e institucional e totalidade dos objectos recuperados ao Rijksmuseum de Amsterdão.
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Source: http://www.abc.se/~pa/publ/mercedes.pdf

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